foto: Caixa d'água, ES, 2012
Alguém aí
tem visto a horrorosa novela das seis, se não me engano é a das seis, aquele
puxadinho de Malhação intitulado “Além do Horizonte”? Não, né? Pois é. A trama trata prometia tratar, lá no início dos tempos, lá onde o horizonte fez a curva,
sobre o tema “a busca da felicidade”. Até aí, tenho que te dizer que eu ia
deixar me envolver, por um capítulo ou dois, pra ver se me embarcava na deriva
de uma ficção que traz inclusive uma sociedade alternativa para a busca da tal felicidade,
com direito a muitos vilões que sacaneiam as pessoas transformando-as em seres
passivos e complacentes, hahahahhahaha, com ajuda de uma máquina poderosa, heheheh, um desbarato impossível de ser
reproduzido aqui, assim, rapidinho, então nem vou tentar, até porque eu nem
vejo, só ouço os diálogos, mal e porcamente, pro meu desprazer é a hora que
estou na cozinha, onde só pega Globo.
Enfim!
Alguém já me disse que dou voltas demais. A felicidade. Parece que o tema agora
está na moda. Sabem, um professor muito bacana me ensinou, nos primórdios dos
meus 15 ou 16 anos, quando eu fazia um workshop de roteiro pra cinema (sim, eu
já era retardada) que existem pouquíssimos temas nos quais os autores deviam se
engalfinhar para atingir a fama, e se esses fossem esprimidos, dariam num só: o
amor. Gostaria de encontrar esse sujeito agora pra dizer pra ele que, nesse
ínterim estranho de vida que estamos, parece que o mundo está cagando pro amor.
Foda-se o amor. Agora o esquema é a felicidade! “Beijo na boca é coisa do passado; a onda agora é, é
ser auto-suficiente”, ou “não procure a metade da laranja, seja você a laranja
inteira”, ou “o homem mais feliz do mundo encontrou a felicidade dentro de si”,
alguma frase de caminhão dessa você já leu, então captou a mensagem que o mundo
quer cagar agora.
Eu
concordo, tá gente? Concordo com isso. Mas tá sendo engraçado demais ver a
contracorrente da geração Y, aliás, a contracorrente DA CORRENTE que prega que
existe uma geração Y, e que somos nós, seres que não sabem lutar pela própria
felicidade, que acha que ela deve cair do céu porque nós merecemos, porque
somos bons, asseados e merecedores. Eu ainda não cheguei a uma conclusão sobre
isso, de geração Y, e acho mesmo que estou tentando relacionar coisas sem
sentido algum, ou minha incapacidade está em exprimir melhor a relação que vejo
em todos esses discursos, e perdão por isso, MAS... o fato é que já leio
bastante gente reclamando como eu, no post ainda mais lido desse blog, que esbravejar
felicidade em facebook é um saco. Talvez a relação seja só esse excesso de
palavras sobre o mesmo tema. Que antes era o amor.
Aí chegaram
dois textos de blogs distintos para mim essa semana. Um de uma moça que se
despede do Rio, outro de um casal que se despediu do Brasil, e os dois meio que
embarcam nessa onda de dizer que estão, em maior ou menor grau, “em busca da
felicidade”. O primeiro é da jornalista
Alexandra Lucas Coelho, disponível aqui: http://oglobo.globo.com/rio/alexandra-lucas-coelho-a-hora-da-despedida-11668912 .
Um texto forte, poético, que eu terminei de ler pensando WTF????
Ela gosta ou não gosta dessa merda, afinal de contas? Porque sinceramente, a
moça deu uma de forte mas a minha vontade é fazer uns cafunés nela e falar “calma
neguinha, faremos uma vaquinha pra você pagar seu aluguel”...
Tá,
concordo com ela que a questão a ser colocada é ótima. Você se esgoelar para
conseguir o dinheiro para pagar o aluguel é uma sensação horrorosa com a qual
estão estou tão bem familiarizada que já nem faço piada mais. Mas se alguém
perguntar se quero sair daqui eu não tenho dúvida nem por um segundo. É NÃO, em
caixa alta, mesmo que essa resposta venha com um bom bocado de esperança da
bolha imobiliária desinchar depois dessa caralha de olimpíada. E por quê? Porque
acho que a cidade se paga em coisas gratuitas para se divertir, por exemplo.
Porque acho que as possibilidades de fazer dinheiro são maiores. Porque ainda
não gastei vida aqui o suficiente. Mas entendo se você não quiser ficar mais. Só
não sofra tanto para tentar se convencer que é ótimo deixar o barco. Seja
homem, mulher!
Tem uma
coisa muito chata que vem com quem muda de cidade. Acontece com todo mundo. A pessoa
fica fascinada com o novo lugar e fica jorrando isso aos quatro ventos, como
tal lugar é maravilhoso, como tudo é mais legal, e também – por que não – há espaço
sempre para falar mal da antiga cidade, tadinha, te abrigou tanto tempo, você
se divertiu tanto nela, e agora ela é uma merda?! Bom, eu tive essa fase. Ficava
tentando esconder, sem conseguir muitas vezes, porque sabia, lá no fundo, o
quanto era ridículo. Tentei carregar meus amigos para cá, arranjei propostas de
emprego para eles, fiquei horrorizada quando negaram, não entendia a atrocidade
de tal decisão. Hoje, percebo claramente o que era isso: a parte mais sofrida
da MINHA escolha. A saudade, que está levemente retratada no último texto do
outro blog de que lhes falei, o www.gluckproject.com.br. O site, também de
jornalistas, fala sobre a busca da felicidade de uma forma mais irônica, e eu
me identifico bem com eles, inclusive porque são como porcos a escrever, sem se
preocupar com a lavagem no ventilador, por aí.
Vamos aos
fatos, então. Pelo menos dois amigos meus deixarão de viver no Rio este ano. Tá
achando pouco? Quantos amigos você acha que eu tenho aqui? Amigos de verdade,
que eu posso ligar até encher o saco, pra tomar uma cerveja na quarta-feira?
Não são muitos, nem aqui nem no mundo... E quer saber? Dei força para os dois.
Cada um sabe onde a sua felicidade está. Qualidade de vida é uma coisa que se
compra, sim, e aqui tá caro demais, eu sei. Sentirei saudade, como quem, de
dieta, sabe que para sempre não pode comer chocolate, só muito de vez em
quando, só para te lembrar do quanto você é infeliz por ser gorda. Isso pode
ser uma abstinência tão grande no primeiro ano que pensei que fosse depressivar,
só de sentir saudade, e ninguém fala disso, não é mesmo? Claro, depois passa. A
ponto da gente conseguir dar força pros amigos que querem mudar daqui.
Credo, que
texto triste, sem cara de Facebook... chega. Acho que vou começar a falar de amor.