quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Orgulho e Preconceito



Entrei numa academia bonita.

Achei tudo super legal. Os professores de fato olham pro que a gente está fazendo e se preocupam com coisas como a nossa posição nos aparelhos. “Sua coluna está torta”, “obrigada, você reparou?, mas infelizmente ela É torta, por mais que eu me esforce, mas obrigada mesmo pela preocupação”, e tem uma série para a gente que sai cuspida de um computador, como se fosse uma conta, não deixa de ser, você que achou que aqueles quinze aninhos de cervejada não cobrariam por um preço alto depois.

E as meninas?

Achei a coisa mais lindinha as novas meninas de academia. A geração de vinte anos parece que saiu direto dos anos 80 pra malhação, com direito a Chiclete com Banana na lambaeróbica, não, quê isso sua velha, isso lá é coisa que se fala, bom mesmo é ouvir Tomate dançando Zumba, fazer esse tipo de comparação engraçadinha é coisa de quê, de gente velha, velha e amarga, que acha que sabe como são as coisas só porque já viveu exatamente aquilo. 

Lembro que na minha geração roupa de ginástica era roupa velha. A gente até gostava de ganhar camisa promocional, de evento, abadá, para poder cortar as mangas depois e ir malhar. Tinha até umas modas bizarras, a malha que era cortada dos peitos para baixo em tirinhas pra ficar style, ô Senhor, quando eu preciso lembrar o que vim comprar no supermercado não lembro por nada, mas essa imagem, que não serve pra absolutamente nada, por mais que eu me esforce para apagar e aqui ela está, e outro dia fui a uma loja de departamento, e pasmem, essas coisas estão sendo vendidas por dezenas de reais.


Enfim. As camisas a gente já pedia tamanho GGGGGG, que era pra tapar a bunda quando colocasse a bermuda de lycra neon, coisa ridícula. Como a gente era boba e avergonhada, hoje as meninas vão com calças psicodélicas bem justas, e ninguém se importa de deixar todas as partes à mostra, afinal o povo malha pra quê, não é mesmo? Pra usar calças psicodélicas neon e tênis multicoloridos neon e rabo de cavalo de lado igual Madonna naquele filme lá que ela era uma menina super levada e que não passa mais na sessão da tarde senão o povo vai descobrir que a moda vai e volta só pra dar tempo de você jogar fora e ter que comprar de novo. E miniblusas, isso voltou também, miniblusas não, cropped, cropped de malha escrito Girl Power.




A gente, que não gastava dinheiro nenhum por roupa de academia, até porque não tinha muito e a preferência era separar essa grana pra gastar em cerveja e cigarro e passagem de ônibus e cachorro quente, e hoje a gente acha normal desfilar em roupas de academia de marca, a gente menos eu, que ainda prefiro comprar camisas da Citycol que tapem meu quadril gigante e me deixem em paz quando tenho que fazer aquelas posições mefistofélicas das caneleiras, chafurdando num colchonete com cheiro de álcool e poeira do chão, aff como eu odeio esse negócio, se gostasse não ia pra academia, vou pra lá porque posso fazer essas coisas em aparelhos que diminuem minha fadiga em ter que puxar ferros sem ter nem pra quê, em aparelhos da minha altura e não no chão, chafurdando.

Apesar disso tudo minha admiração continua, eu correndinho na esteira no compasso do velho com meu Thriller a tocar, ver a desenvoltura dessas meninas é algo espetacular, no meu tempo a gente acreditava que ia ser estuprada se se fantasiasse assim e saísse pela rua, éramos tão medrosas, capaz de acreditarmos que a culpa ainda era nossa, quando o quê, é só o corpo humano, e os homens têm que aprender a não agir como animais, culpa nossa é o car**** seu imbecil acerebrado, eu tenho que ter o direito de usar o que quiser e essa geração iluminada está gritando isso, Girl Girl Girl Power!!!! Who run the world motherfucker???? #loveUBey.


E percebi que as meninas de hoje não só levantam a bandeira como gostam desse negócio, e das roupas super legais, dos tênis grandes e dos celulares, e sem nenhuma vergonha de mostrar o bumbum nas calças metálicas, as mais discretas usam calças brancas, BRANCAS, gente, no meu tempo isso nem sequer era fabricado, aí comecei a reparar numa coisa, que numa academia não tem mesmo muita coisa pra fazer a não ser tentar respirar e observar o resto, elas dão valor para que o bumbum fique perfeitinho, redondinho, sem marca da calcinha, e pra isso elas usam aquelas calcinhas, AQUELAS, que você se dispõe a usar por vinte segundos (entre o banheiro e o quarto), de dois em dois anos, pra mostrar pro seu namorado que afinal você também se esforça pra manter a relação, então, fio dental pra malhar, socorro Senhor, onde vamos parar, se na areia já não faz o menor sentido pra mim quiçá nesse lugar, nem pensar que um dia entro nessa, grazadeus que sou da geração que pode estufar o peito e dizer, “tem duas coisas nesse mundo que nunca vou ser, malhada de albumina e obrigada a usar isto”, e lembra de alongar senão dói o nervo ciático.


E saindo outro dia com uma amiga, vamos ao supermercado, vamos ficar sem beber? Vamos, que quero ir de carro, Deus escreve serto por linhas mortas, a gente para de se estragar por pura preguiça, para de beber, não pode mais comer, daqui a pouco faz um filho porque precisa ter um brinquedo novo pra passar o tempo, e assim fomos, com as comprinhas de supermercado na mão a visitar o amigo, torradas integrais com pasta temperada de soja, um queijo mais branco que Michael Jackson no fim da vida e suco de cranberry light,que é ótimo pra circulação, a amiga fala “nossa, estou super orgulhosa da gente”, e eu completo, “eu também tenho orgulho, um pouco de orgulho e pouco de preconceito”. 



E foi assim, no dia seguinte fui à academia sem ressaca, e bastou uma conta cuspida do computador para eu perceber como a minha mente prega peças, e enche tudo de florzinha e coração até hoje, sua retardada, a nova geração girl power não passa da velha girl in prison, a gente acreditando que não podia expor nada, elas achando que precisam. 



 Já conhece o nosso programa? Vai lá! www.youtube.com/rioaos30 

 Ainda não visitou nossa página no face? Quê isso! Curte lá! www.facebook.com/rioaos30