quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Sobre a culpa

                            foto: Igor Borgo


Estou pronta para tirar as minhas primeiras férias desde que me mudei. Prontíssima! Contando os dias! Como todo bom assalariado que se presta. Não, melhor. Bem melhor.

Olhei para frente e vi as águas azuis de uma caverna da Chapada Diamantina. É para lá que, se Deus quiser e o Diabo não se opuser, descansarei meu corpinho riscado, gordolento e fatigado  dos últimos anos. Não lembro quando foram, oficialmente, minhas últimas férias. Sei que fui à praia algum dia de semana nesse meio tempo, o que, a olhos menos atentos, já valeria um mês de férias só pela ousadia, nesse mundo que tanto preza as oito horas e mais uma de almoço e mais três de deslocamento. Não estou reclamando. Só estou te dizendo que talvez essas sejam as férias mais maravilhosas que vou viver, com certeza a que está me criando mais expectativas, e só por um motivo: o que mata o freela não é o excesso de trabalho, e sim a abundância de culpa.

Para te falar a verdade ainda não me acostumei. Essa coisa de ficar em casa é muito estranha. A gente vai ficando obcecada com limpeza, com produtividade, com disciplina, e nunca consegue fazer tudo o que está na famigerada lista que faço todo santo dia. A gente sabe que tem que trabalhar – por si próprio, por suas ideias, senão ninguém mais no mundo o fará. A gente tem que aprender muito mais também, porque não tem que entregar um serviço do jeitinho que já foi pedido um milhão de vezes, mas fazer coisas novas o tempo todo. Trabalhar a criatividade, principalmente puxando a própria orelha três, quatro, cinco vezes ao dia que te dá vontade de deitar e ver uma TV. Ou dar uma faxina melhor na cozinha, meu bem, como você pode não perceber, em cima dessa geladeira está um CAOS!!! Não, não vai dar para sentar e escrever NADA agora, preciso pelo menos passar um paninho ali, vixe, tá grudento, preciso de bucha, e bombril, deixa de molho no mr músculo, juro que não vou ficar olhando a sujeira se desintegrar com o passar do tempo, jesus cristinho, são cinco horas da tarde e eu nem li o que me impus de meta para hoje, como o tempo passa rápido quando se está em casa, mas será? Será mesmo que eu produzia muito mais quando estava num ambiente de trabalho habitual, ou o fato, o fato verdadeiro, é que o que eu não tinha era essa porra de CULPA, essa CULPA GIGANTE que todo mundo que é freela ou faz mestrado tem, que se tudo der errado A CULPA É SUA, seu preguiçoso de uma figa, já sim, todos perceberam que não vai ser o suficiente, o tanto que você lê, e vê, e escreve não será nunca o suficiente, então porque eu morro de culpa? E olha que nem topei entrar na turminha de mestrandos Jesus, já te disse minha filha, porque se você não fizer o que botaste na tua cabeça que tens a fazer ninguém mais o fará e principalmente porque ninguém, além de você, vai se julgar com uma crítica tão cínica, meu Pai como você é cínica, com os outros dá pra ter uma ideia, mas contigo mesmo, minha filha, tu é muito pior, vai acabar ficando velha e cheia de rugas mesmo antes do tempo. Ah, a culpa então não é do vinho não? Tá vendo, tá aí, na sua boca, falando de novo que a culpa é sua, eu não disse nada. Gente, é mesmo, preciso de terapia, que porra é essa? Veio da minha infância é? Sei lá, mas acho bom você se curar antes de ter filhos, dizem que piora.

Porque é tão difícil dizer “estou tirando férias porque mereço”? Porque desde que inventei essa merda de história de recomeçar aos trinta só o que faço é viver um dia de cada vez com a leve impressão de que os anjinhos da guarda estão pregando peças em mim, fazendo um teste para ver se eu permaneço de pé, tornando as coisas um pouquinho, só mais um pouquinho difíceis do que para todo o resto do mundo, como procurar apartamento por quatro meses a fio, só para começar a história. Ah, além de culpada é egocêntrica, a vida é assim mesmo minha filha, para todo mundo é difícil, e você tá se fazendo de vítima para quê, se é tu mesmo que vai ter que resolver as paradas todas até desanuviar essa borreira na qual transformaste tua vida? Cala a boca, vai dormir, minha vida tá ótima, só falta eu sobreviver mais uma meia dúzia de dias e entro no estágio semi-consciente que a estrada vai me proporcionar, para bem longe, bem longe, bem longe daqui e da sujeira de cima da geladeira.


Não existe culpa nas águas azuis da caverna da Chapada, porque lá eu vou estar bem longe de mim.





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sábado, 7 de dezembro de 2013

Mercado de peixe – Sobre as gravações do Rio aos 30 #04



Sabe, eu e meu namorado não gostamos de Niterói. Primeiro vou contar essa historinha para vocês entenderem o preconceito com o qual já fui para a pauta, apesar de ter a cabeça aberta, amar frutos do mar e achar meu namorado às vezes muito exagerado. Vamos lá.

Mudamos para o Rio, meu namorado havia sido chamado para trabalhar no Centro, eu encontrei um apê legal na Tijuca, a vinte minutos de ônibus do serviço dele. Tudo perfeito, até que a empresa resolveu que ele deveria ser transferido para a nova filial que abria em Niterói. Porran... O que eram vinte minutos viraram três a quatro horas diárias de locomoção que envolvia quatro ônibus e duas barcas, ida e volta. Rapidinho ele ficou estressadão e começou a achar Niterói uma merda. Aí você, como todo mundo em volta de mim, pergunta: então porque você não muda pra Niterói, se o valor do aluguel é bem mais barato lá? Porque eu não saí de Vitória para morar em Vila Velha, oras.

Sem preconceito. Sei que a questão aqui é Canon-Nikon, seu cu vai te dizer qual você gosta mais. Conheço várias pessoas que moram em Vila Velha e sei porque eles não trocam a cidade por nada: belas praias, bons bares, tem tudo em volta e um jeitinho mais bacana de lidar com as pessoas, os vizinhos, uma coisa de cidade que não é capital. Mas eu sei também porque os “Vitorianos” vestem a camisa. Porque para a gente, sinto muito, os canelas-verde sofrerão sempre de um “quase”.  E tá explicado.


Foi com essa doçura na alma que entrei na barca para chegar à quase cidade de Niterói para descobrir o tal famoso mercado de peixe, realmente muito bem falado e conhecido no Rio. A chegada tem uma vista bacana das coisas que Niemeyer desenhou por lá. Mas logo a gente chega numa cidade que me pareceu árida, sem árvores, sem vontade de cantar uma bela canção. Estava um calor senegalês e isso ficou impresso na minha memória (não que o Rio tenha tantas árvores assim, aliás precisaria de uma floresta amazônica para diminuir alguns graus no clima do capeta que essa cidade tem, mas voltemos a falar mal de Niterói que é esse o papo, eu sempre devaneio meu Deus).

Niterói. De cara a gente encontra a também famosa estátua do índio Araribóia, diz a lenda que ele passa a eternidade olhando invejosamente para a outra margem e pensando porque diabos logo com ele rolou o azar de ficar do outro lado da poça. Bom, mas o índio é fodão e inclusive denomina o gentílico da cidade, sabia?, sabia? Pois é, quem nasce em Niterói não é niteroiense não, rapaz, é araribóia, que aliás, além da oportunidade de ter nascido carioca e tirar onda com o resto do Brasil deve também ter perdido o acento.

Fomos caminhando até o mercado de peixe que é mesmo igual a qualquer outro do mundo: cheio de azulejo e fedorento. Até que pouco fedorento, haja vista o calor e a matéria-prima do lugar, o que determina de cara o frescor dos peixes comercializados por lá.

O mercado tem diversas bancas com lindos linguados, corvinas, cavaquinhas, vermelhos, polvos, lulas, caranguejos de “Marataíze”, ostras vivas gigantes pulsando dentro das suas aconchegantes conchinhas e lá no fundão um altarzinho para São Pedro abençoar a galera do mar. Isso é no primeiro andar. No segundo tem um monte de restaurantes, alguns maiores, outros com cara de botecos improvisados, o que, pelo menos no Rio, pode ser um indício de comida simples e boa. Isso sem esquecer a escada que liga os dois andares, porcamente decorada com um aquário moribundo com peixes geneticamente modificados pelo lodo acumulado na caixa de vidro por anos, não, por eras, aqueles peixes conversaram com São Pedro pelo que consegui ver através da verde cortina de musgo.


Escolhemos um restaurante maiorzinho, que dava para a bela vista (not) de fora. Ele tinha uma parede de vidro que ajudava a iluminação para a gravação, só por isso sentamos ali. A experiência não foi das melhores, para falar a verdade. Eu não sabia que tinha que avisar ao cozinheiro que não adianta ter um belo peixe fresco se você emborca o bicho na mesma gordura paleolítica do pastel de linguiça de porco. Quanta tradição!


Aliás, tem uma coisa bem bacana no mercado: você pode comprar o seu peixe lá mesmo e, por uma taxa, eles preparam para você. Acaba saindo o mesmo preço, mas pelo menos você viu a cara dele antes. O que não significa muita coisa se, repetindo, você é um imbecil que escolhe o restaurante pela luz e não pelo chef. E eu também não acho que os donos de restaurantes realmente preferirão comprar o peixe fora do mercado, então você pode estar trocando sovaco por axila, mas quem sabe ele não reservou aquele que não vendeu na semana passada para você, não é? Hum.



Serviço:
As ostras custam R$ 3,00 a unidade.
O Mac Donald’s é no caminho de volta para a barca.

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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O Sofá




Por esses dias eu decidi duas coisas muito importantes na minha vida: comprar o sofá dos meus sonhos e tomar café sem açúcar. É, ao que parece estou tão bem acostumada com meus trinta anos que já ajo como uma quarentona.

O sofá significa tanto, mas tanto pra mim, que é sobre isso que vou encher linguiça hoje. O sofá é a personificação da casa, o espírito de cada lar. Lembro que ainda quando vivia na casa dos meus pais eu dormia mais no sofá do que na minha cama, por vários motivos. Na minha adolescência eu era tão bagunceira que não conseguia me acomodar direito no meio de todas as roupas, colares, pulseiras, papeis, enfim, tudo que eu ia usando e largando em cima da cama. Quando queria muito dormir ali, fazia um rocambole usando a colcha para me livrar daquilo tudo, ia girando aquele bololô e depois tacava no chão. A dica é ótima, aliás, para quem é bagunceiro, pois no dia seguinte basta recolocar o rocambole e ir girando ao contrário, a cama fica exatamente como estava no dia anterior. Então, mas o texto é sobre sofá, e o sofá da casa dos meus pais era realmente ótimo. Me cabia direitinho dormindo de lado e eu ainda podia acompanhar todo o ritmo da casa, as pessoas conversando, vendo TV e eu ia adormecendo lentamente no meio daquilo tudo.

Ou então me salvava quando eu tinha chegado de madrugada. Eu dividia o quarto com minha irmã e ela tem o sono super leve, então muitas vezes eu preferia uma opção mais confortável do que ouvir suas reclamações, ainda mais quando eu já chegava meio alta e ia batendo em todos os cantos do quarto no meio da noite, crente que estava sendo super silenciosa. Por tudo isso, o sofá sempre foi minha primeira opção.

Bom, aí eu fui morar sozinha, e quando me mudei não tinha móveis. Comprei o basicão e achei que a vida ia se encarregar de prover o resto. Não demorou muito, foram apenas uma ou duas festas com móveis de papelão, mais umas tantas com móveis de plástico, numa delas ainda bem que não tinha móveis, um sujeito vomitou um quarto completamente pelado, digo isso do quarto, não sei como o sujeito estava, e bem, lógico que ele atentou de fazer isso na esquadria da janela de alumínio para dar algum trabalho à limpeza, senão não tinha graça. Limpar esquadrias é uma coisa realmente chata. Estou pensando em comprar um aspirador para fazer isso. E uma daquelas vassouras cuja piaçava é de espuma, para limpar as janelas da minha cozinha, função à qual já abdiquei há algum tempo e que agora dá sinais da sua importância, mas piaçava de espuma e aspirador é cinquenta anos já, acho que posso esperar mais, não completa nem um ano mais pra eu refazer o contrato do aluguel ou sair daqui, nem vale a pena limpar essas janelas agora. O que me incomoda mesmo são os duendes que estão vivendo com os fios atrás do hack. Ah, eles deviam ser aspirados, com certeza. Mas voltemos ao sofá.

Foi uma taróloga que veio me dar esporro, inclusive no meio de uma consulta. Ela falou que minha casa tava parecendo um camping (boa, a menina, nem nunca esteve lá) e que eu precisava começar a cuidar dela, transformá-la num lar. Foi aí que apareceu o primeiro sofá da minha vida. Ganhando uma mixaria, esse móvel ficava sempre na última prioridade, mas a vida é uma caixinha de surpresas, e meu sofá estava na minha frente, e um dia eu vi. A secretária do departamento onde eu trabalhava sabia que eu ia ganhar um extra, também uma mixaria inclusive, e me vendeu o sofá e o hack que ela acabara de comprar, mas que não poderia ficar com eles porque voltaria para a casa da mãe, que precisava do seu auxílio. Ou seja, um presente.

Chegamos, enfim, à contemporaneidade. Eu e meu namorado entramos algumas vezes na loja que se chama “Toque a Campainha”, hahahahahahhahahahah, que nome é esse Braseeeelll???, e nenhum atendente mais parecia querer atender aquele casal que adorava sentar em sofás grandes e bonitos e nunca levar nada. Mas esse cenário mudou! E na semana passada, levamos O Sofá! Um sofazão grande e gordo que se abre inteiro pra você, esparrama sua cabeça, te abraça e fala que vai te amar pra sempre. Um retrátil café gigantesco e sólido, que vai até o chão e não te deixará nunca mais cair na vida, e nem se sentir sozinho de tudo, ele estará lá, nos melhores e nos piores momentos, o Sofá da minha vida inteira. Agora preciso arranjar apartamentos para morar com cozinha boa, área de serviço e sala que caiba o Sofá.

O antigo, não vou me fazer de ingrata por todos esses anos, mas o fato é que ele parecia uma criança da propaganda Médicos sem Fronteiras do lado do Sofá. Coloquei em sites de venda por um preço absurdo de barato (não ia me sentir bem em ganhar mais do que a mixaria que paguei nele, há anos atrás) e teve gente choramingando pra ficar com o dito cujo. Contra minha ética acabei dando prioridade a um universitário que chorou mais (e arranjou logo um carro pra carregá-lo da minha casa). No elevador, brevemente, ele me contou a sua história: se formaria no dia seguinte e resolveu se presentear com um sofá porque não aguentava mais a casa com cara de universitário por anos a fio. Me senti uma velhaca ao compreender totalmente o que ele dizia, pensando que já havia passado também por isso.


“Putz, o sofá é lindo! Porque você quer se desfazer dele???” disse o garoto assim que botou os olhinhos quase marejados no sofazinho. “Porque eu prefiro o pai dele”, disse eu, exibindo meu Sofá forte e viril e retrátil como um jogador de basquete que estende as pernas na praia. Em vão. O garoto permanecia vidrado no sofazinho, feliz que estava com sua aquisição a preço de banana, ainda sem acreditar que a vida, ah, a vida, a vida é uma caixinha de surpresas que havia lhe dado um presente. Depois desisti de chamar a atenção com o meu grande móvel urso e fui em frente, “você tem interesse em ficar com essa mesinha de centro? Ficou apertada depois que o Sofá chegou aqui”, “Claro, claro, claro que sim”, ele continuava não acreditando, “Minha mesinha é um carretel, era o que eu precisava, quanto você quer por ela?”, “É um presente de formatura”, “Não, gente, quê isso? Vou mandar convites da festa para vocês”, e lá se foi o garoto com um amigo a tiracolo carregando os móveis da minha casa e largando pra trás umas notas de cinquenta. E eu estou aqui, a muito custo, tomando um café sem açúcar, e logo mais vou dar uma faxina na minha casa e talvez fazer minhas unhas, que programei com meu namorado de sairmos hoje, apesar que pode ser muito muito difícil eu sair de casa durante um mês ou dois.


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sábado, 30 de novembro de 2013

Cachu – sobre as gravações do Rio aos 30 #03



É verdade que eu estava de ressaca quando gravei esse programa. Todos nós estávamos. Como uma boa equipe que quer permanecer unida, bebemos unidos um dia antes, na casa do Uriel, o editor e sócio da Cazota. E é verdade também que os cariocas adoram esticar as horas livres o máximo que podem, e isso significa, muitas vezes, ir trabalhar na segunda-feira bem chumbado. Mas eu gosto dessa coisa, para ser sincera. Quem trabalha domingo não tem como guardar muitos pudores com a saúde física do dia seguinte, não. E a mental... bem, ela às vezes funciona melhor desse jeito.

Eu estava doida de vontade de conhecer essa tal cachoeira. Alguns amigos já tinham ido passar o dia lá, e me falavam com um ar blaseé, “hoje não vamos à praia não, vamos à cachoeira”. Como assim? Todo mundo sabe que chegar em cachoeiras exige viagens e trilhas bandidas, a não ser  que você já more no campo. E a não ser essa cachoeira. Essa pulsa mesmo dentro do coração da floresta da Tijuca, bem na meiúca da urbanidade e da poeira e de toda a nojeira do asfalto.

Realmente é fácil de chegar, dá até para fazer isso de ônibus (linhas 409 ou 416, ponto final). Logo de cara, no início da subida para a Vista Chinesa, a gente encontra uma represa. É lá que é cheio de ebó. Nada contra, gente. Nada contra MESMO! Acho a religião inclusive muito bacana. Mas não dá pra ficar na florzinha não? Não tem um jeito de não deixar aquele monte de comida lá? Chama rato, barata, bicho de tudo quando é jeito. Acho que o santo vai entender se você explicar direitinho que não queria poluir o local...

A trilha é razoavelmente tranquila. Tem alguns pedaços que impossibilitam pessoas com deficiência de passar, como por exemplo uma parte que é necessário subir com a ajuda de uma raiz, mas de resto acho que não tem grande mistério não. Também tem isso: morar em cidade grande significa que você nunca vai pra um lugar sozinho. Se 0,001% da população tiver a mesma ideia que você, o lugar vai lotar. Daí é só perguntar o caminho para alguém por lá mesmo que você consegue chegar.


Devidamente revigorados, seguimos em frente até a Vista Chinesa. Se você não tem um preparo físico bom, acredite, lembrará desse passeio por mais ou menos uma semana. Então pode ir de carro, ou combinar com um taxista para esperar, ou subir outro dia. Mas podendo, não deixe de ir: a estradinha que leva até lá é uma belezura, até a temperatura muda, toda encalacrada de floresta que é em volta. E do alto do verdume tem a vista mais clássica do Rio de Janeiro, com um quiosque pseudo-chinês lá em cima que dá umas boas fotos. E você sempre pode tirar uns minutos para observar turistas estrangeiros em seu habitat natural.  


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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Cadeg – sobre as gravações do Rio aos 30 #02




                           foto: site do Cadeg
 

O Cadeg foi a nossa primeira gravação. A equipe já frequentava o local, conhecia um bocado daquilo ali. Nessa primeira experiência com a turma, tive o prazerzaço de contar com a presença da Juliana Amorim, que foi, por anos, a produtora que trabalhava comigo no Em Movimento, ainda no Espírito Santo. Ela estava de passagem aqui no Rio e a convidei para acompanhar a gravação. Claro, isso me deu um ânimo diferente, desabituada que estava com aquela turma, como já disse, essa coisa de gravação é uma das paradas mais íntimas que existem, você expôe seus erros o tempo todo para os colegas, um tem que entender o jeitinho do outro, e se não quiser entender, normalmente o serviço sai uma bosta.

Enfim, lembro bem de como estava quente. Pensei que jamais conseguiria trabalhar nessa cidade. Melequenta de suor na primeira sonora, pelo menos eu estava num ambiente que considero total a minha praia – cheia de gente simples, com comida boa e muita coisa para olhar. A gravação rendeu uns bons dois cartões, sinal de que o Beto – cinegrafista – ia ficar puto da vida, o que não aconteceu, e o que já era um milagre.

O pessoal que nos recebeu por lá me deixou de cara com o tratamento. No Espírito Santo eu não estava acostumada a ser tão bem atendida assim, de cara, para um programa de internet (!) que sequer existia(!!!). Nos levaram a todos os cantos, nos explicaram tudo, abriram rodas de conversa, nos deram cerveja gelada e uma bela mesa banqueteada com todos – TO-DOS! – os pratos disponíveis na festa portuguesa. Cheguei em casa meio alta, cansadíssima de tanto calor e tive uma DR com meu namorado, que até hoje não entende direito que às vezes eu preciso beber no serviço, mas valeu a pena.

Eu adoro me enfiar em um mercado. Todos os que conheci eram lotados de história, aspectos da cultura local, comida e bebida fartas. Esse ainda é entupido de produtos fantásticos e fica perto da minha casa. Um toque de pertencimento a uma Zona Norte ainda pouquíssimo explorada e festejada, aquela gravação começava a fazer sentido em tudo o que eu queria aqui, ainda mais com tanto vinho e planta em volta de mim. E eu descobria que exercer meu serviço aqui, ao contrário do que imaginava (e como muita gente gostava de ameaçar) parecia muito mais fácil. Cariocas falam, se a gente puxa conversa eles dão pano para manga, riem junto e estão acostumados com câmeras. Ninguém fica com vergonha ou “prefere não se expôr”, o que facilita muitíssimo o meu trabalho.

O legal do Cadeg é que ele é um ambiente verdadeiro. Pelos motivos mais diversos, todo mundo que eu levo lá fica com vontade de voltar. Papai ama a diversidade de vinhos e principalmente os preços. Mamãe se perde nas plantas. Cesinha e Tati adoram o PF de bife. Acho que Juju super curtiu a mini aula de cervejas importadas, a equipe adora comer lá no fim de semana, ouvindo um chorinho, e eu gosto muito da feijoada do Barsa e dos lombos de bacalhau ponográficos que expõem por lá. É um lugar genuíno, raro no Rio, que não vai te cobrar mais caro pela vista, mas sim pela qualidade das coisas.


Serviço: Vá de táxi. Permita-se beber uma cerveja por lá, ou mesmo um vinho. Tem locais climatizados muito bons, onde você pode comprar uma garrafa na própria loja, a um preço bem bacana, para acompanhar a refeição. Ah! E se for fora de temporada, você ainda pode topar com o Papai Noel. 
 
Para você que não viu:
o Rio aos 30 do Cadeg está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=EnS6zqoc6uw
 
O Papai Noel está aqui:
 
E o site do Cadeg é este aqui:


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Turistando - sobre as gravações do Rio aos 30 #01




O primeiro é pra ser gongado
Ter ideias até que é fácil. Difícil é estruturar, botar em prática. Começar, então, é sempre um desafio, seja lá onde você quer se meter. Com o Rio aos 30 não foi diferente, e o tema do primeiro programa não surgiu de uma hora para outra. Na verdade, já havíamos gravado alguns quando tivemos a ideia de fazer exatamente o oposto para abrir os trabalhos. Um dia inteiro de tursimo bundão. Já começamos a rir só de imaginar a equipe gravando nos lugares mais espalhafatosos, gringos e azerbaijanos do Rio.

No Pão de Açúcar
A gente saiu para gravar num sábado de manhã, e é verdade que os cariocas são super proativos. Um monte de gente encalacrada na pedra do bondinho logo de manhã é uma coisa que choca a gente. Aquele monte de bagulho sendo vendido, não maconha, bagulho mesmo, aquelas sombrinhas com cenas de cartões-postais da cidade, horroroso, quem compra aquilo, gente? E depois a companhia aérea ainda vai achar que se trata de uma arma, e de certa forma eles têm razão.

Entra numa fila, tudo bem, por aqui se descobre rápido que coisas boas têm fila, aaaaaaaaaaaaaaahhhhhh, então você tá me dizendo que o bondinho é uma coisa boa? É sim, eu acho uma coisa boa, não é porque é ridiculamente voltado para os turistas que não seja bom, os turistas têm cérebro, mesmo que refrito por ácidos e álcool eles têm cérebro, eles sabem o que é bom, e um treco que te sobe para você apreciar uma bela vista ao invés de te atracar com uma pedra quente às sete da manhã de sábado não é bom não, é ótimo.   

Chegando aos pontos, só dá pra dar graças a Deus que a equipe é formada também de cariocas. As descobertas são de verdade, tipo, se ninguém me avisasse eu REALMENTE ia fazer a trilha até o nível do mar de novo. É mesmo mal sinalizado, e os serviços surgiram de necessidades que eu ia encontrando de não me perder por aí... (Pode até ser que eu seja meio lenta para perceber as coisas, mas duvido muito que turistas com o c* cheio de cana de uma semana seriam mais espertos do que eu).

Bom, a esse serviço segue-se o povo fala mais inútil que já se fez em toda a história do audiovisual brasileiro, com aqueles proativos felizes que estão, ou não, todos os fins de semana escalando as pedras do Rio de Janeiro, com pessoas de fora, e também de brasileiros, já que estamos dentro do Brasil.

E aí descubro que minha voz fica muito estranha quando dou urros de alegria, o que pode acontecer com a visão de um creme para as mãos de graça. Quando digo que apresentadores não têm a menor noção de como vai sair essa porra no ar, é disso que estou falando, e a gente só descobre junto com todo mundo , ah, como gravar pode ser gratificante, a gente aprende muitas coisas. (E se alguém aí está curioso, ainda não conseguimos o patrocínio da Natura).

Gente, os pratinhos. Os-pra-ti-nhos. Os pratinhos são feitos com fotomontagens horrendas. As imagens (vendidas também), são tipo, não consigo nem descrever.  São tipo de pessoas photoshopicamente sentadas na mão do Cristo, ou em cima do morro da Urca, ou tomando banho na Lagoa. Um horror.

Em Copa
O lance do espetinho de camarão é o seguinte: sempre quis comer aquilo. Quem nunca? É uma das coisas mais esteticamente bonitas pro meu paladar. Camarões gigantes e vermelhos passeando pelo céu da minha boca enquanto olho o mar, é de chorar de vontade. Mas lógico que rola aí um trauma: minha mãe NUNCA deixou eu comer esse troço. Nunca nunca nunca nunca nunca. (Daí que quando eu saí de casa, um belo dia, passou um desses vendedores na minha frente e eu não resisti. Como um símbolo máximo da minha rebeldia e independência recém adquirirda, comprei um espetinho. Óbvio que no mesmo instante liguei para ela e contei. Ela, do outro lado da linha, ainda tentava me impedir da loucura: “nãããããão, minha filha, não coma isso!!! Não coma o espetinho de camarão!!!!”, “vou comer sim, a vida é minha e faço dela o que eu quiser”. Eu não morri, mas tenho certeza absoluta que Deus só fornece uma chance para cada ser humano experimentar a iguaria. E olha que eu sou do tipinho que come ostra crua. Ah! Declaração importantíssima: é mais bonito que bom).

Uma das coisas mais legais de fazer quando se vai para Copa é passar por gringo. Se você não tiver uma cara muuuuuito de brasileiro, seja lá ela qual for, vão te tomar por gringo. Daí é só não falar muito, deixar os ambulantes falando sozinho em inglês. É super divertido. (Minha nacionalidade avatar no Rio é francesa, tá gente?)

Uma coisa que PRECISO desabafar dessa gravação é que a piada infame do Lelek line não é minha. NÃO É MINHAAAAAAAA!!! HAHAHAHAHAHHAAHHAHA! Foi o produtor que mandou essa, e eu não resisti e falei, mas não foi ideia minha, eu juro, hahahahahahah!!

No Cristo
O Cristo é legal. Gravamos tudo no mesmo dia, eu já estava um bagaço, mas o pôr-do-sol que pegamos foi realmente incrível. Sempre dá para você se divertir tentando sair de penetra nas fotos dos outros, e é bom que você tenha metas mesmo, senão pode cair num mau humor tremendo, eu que detesto esse monte de gente se encostando para ver as coisas com certeza teria desistido se não fosse a gravação (ahhhhhh, como é bom, tá vendo? Gravar é ótimo), e infelizmente não deu para vocês entenderem a piada “deita no chão, Beto”, Beto tem uns quinze metros de altura, ele não deitou no chão, mas seria ótimo ver isso.

Serviço:
Vá de blusa com mangas no Cristo. As banhas do braço ficam horríveis na foto de baixo para cima.

Epílogo
(Uriel, o editor, falando com o cara do som): -Carlão, tem como você arranjar uma base para introduzir um punk rock?

(Carlão): Olha Uri, punk rock é um estilo... conhecido por... não ter introduções, e tal.

(Uriel): Pô, mas preciso de uma base aqui. Qual é o nome dessa música, Helena?

(Helena): Éééé... “urubus não têm ressaca”.

(Uriel): “urubus... não... têm...”


(Helena): Você tá mesmo procurando ESSA MÚSICA no GOOGLE?         

terça-feira, 19 de novembro de 2013

No dia do arrebatamento este carro ficará arrebentado



Uma das maiores falácias que o homem inventou foi que “aprender é bom”. Aprender é uma merda, gente. Bom é já saber.

Meu texto de hoje é baseado nessa mentira descabida que estão por aí reproduzindo há séculos. Vou botar minha boca no trombone pra falar o que todo mundo sabe, mas continua repetindo o oposto. Aprender é horrível, dolorido, impetuoso, no mínimo chato. Parei de frequentar aulas de inglês porque achava insuportável aprender uma língua em regras estampadas em caixinhas verdes. Boring, boring, boring. E se você tem dificuldade na Matemática pode decorar a tabuada, saber a tabuada é muito bom, mas você não pode decorar, tem que INTERPRETAR a tabuada, como faz isso? Mais uma mentira, socorro papai do céu, como sou burra, não consigo INTERPRETAR a tabuada, É PORQUE É IMPOSSÍVEL FAZER ISSO MINHA, FILHA. Pode entrar no Kumon, também, que é a versão nazista dessa pseudo-interpretação. Joia.

Ou aprender Português. Você pode ler livros, não aprender Português. Você tem que falar, e ler, e falar, e escrever, e uma hora começa a cometer menos erros. (E o google também ajuda).

Mas isso tudo é na parte fácil da vida, porque também tem a difícil, tem quando a gente precisa aprender a lidar com PESSOAS. Isso sim é complicado. Porque PESSOAS são seres estranhos e indecifráveis. E imprevisíveis. Quando você chora e pede pelamordedeus, a maioria lambe os beiços para tacar sua cara no meio fio.  Isso depois de ter passado o caminhão em cima de você. E um cachorro ter mijado no seu olho direito.

Estou escrevendo assim, desse meu jeito doce, porque fui atropelada há pouco tempo. Sabe quando parece que a gente já viveu demais para não acreditar não ter previsto o furacão? O tempo virou na minha cabeça, nuvens pretas carregadas de duendes saltitantes dizendo “toma cuidado, minha filha”, e eu fui lá, com um guarda-chuva feito de metal pra escorrer melhor o raio pra minha cabeça. Se foi ruim? Foi horrível.

Mas... aquela coisa. É ruim aprender, mas péssimo não ter vivido. Por isso, não trocaria por nada, sei que tive, na verdade, uma bela de uma oportunidade. Já estava sabendo, Osho tinha me contado. “Veja a destruição como se fosse com outra pessoa”, ele me avisou ao pé do ouvido. Tentei o máximo que pude, e permaneci em pé.

É muito difícil aprender, mas saber é uma das coisas mais gratificantes que existem, e é só por isso que a gente se fode. O tsunami arrancou tudo em volta, mas depois caíram algumas flores em volta de mim,  com cara de bênção e raiz forte o bastante para replantar. Dessa vez saberei onde, quando, em qual lua, um monte de coisa que só quem foi atropelado sabe. Que bom.

Sabia, sabia, sabia que tem gente que vai te abraçar no fim do mundo? 

Agora estou aqui, só agora, ainda bem, deu tempo de rearranjar um pouco as coisas, mas agora estou assim, gripada com aquela gripe que te atropela, mas agora você não permanece em pé de jeito nenhum, ela te faz cair para você lembrar que tem esse direito, nem que seja distante, escondido. Tenho trinta anos e já sei que esse é o tempo da Terra para a recuperação. Dói o corpo, a cabeça. Parece que você está constantemente bêbado, só que de meleca. Ah, é assim, é assim que a gente se sente. Sua boba, precisa dessas firulas, uma dosezinha de autopiedade só para ficar preguiçando com alguma desculpa boa. Dá é graças a Deus de você não bater ponto, ninguém ia te permitir isso não, tá? Tá, mas provavelmente eu não seria tão atropelada assim também, ora bolas.


Enquanto isso eu durmo, jogo Candy Crush, sonho com espíritos. Eles me pedem ajuda, e as coisas por aqui acabam me parecendo simples demais.  

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Homeless




Esqueci a escova de dente oficial na outra casa. Aqui só veio comigo uma condor laranja, daquelas que o cabo vira uma capa para proteger as cerdas, uma escova vagabunda feita pra estar em qualquer lugar, até na bolsa de trabalho, onde tudo vive. Do lado dela, em cima da pia, uma pasta de dente velha demais, nem é sensitive, eu que uso sensitive há tanto tempo, ela tá lá, dobrada no meio, esperando desesperada a hora de descansar em paz. No banheiro também tem cotonete, muito cotonete, aquele pote redondo grandão, que boa surpresa, ainda bem que eu comprei um desses antes de viajar.

Tem algum tempo que eu não escrevo aqui, desculpem a quem procurou mais coisa e não encontrou. O motivo é que estou homeless: fui chamada às pressas para ir à Vitória para compor a equipe do Festival de Cinema de lá. Esse trabalho me orgulha bastante. É cheio de dificuldades. Não, é só feito de dificuldade, ser produtor de evento é resolver pepino, basicamente. Ainda mais quando o evento não está nadando em patrocínio. Enfim. Exatamente o que eu precisava para alimentar o meu Espírito Prático, tão adormecido por tardes de sesta depois regadas a café e leitura e escrituras, só o irmão tava ganhando comida, o Espírito Criativo, o Prático, coitado, tava “praticamente” morto. Rá.

Mas então, fui chamada assim, às pressas. Gosto dessa expressão porque fica parecendo que a gente é super importante. Ninguém dispensável é chamado “às pressas”, e, se eu fui, é porque precisavam de mim, o que é super legal e a cara dos trinta anos. Então eu fui. No meio da quizumba da estreia do programa. Gostaria de estar acompanhando mais de perto a repercussão, mas não deu, e talvez seja melhor assim. Só sei que fui, e agora parei um pouco para escrever porque estou no Rio, vim para gravar no meio da produção do Festival, o que é muito legal, afinal, há duas semanas larguei tudo uma farofa aqui, agora larguei tudo uma farofa lá, dá uma ventania no cérebro, essa coisa de ponte aérea rapidinho pra resolver uns troços, você esquece até a escova de dente oficial, achava você, na hora de fazer a mala, que não ia fazer falta, quando na verdade tudo o que a gente precisa pra se sentir em casa é a porra da escova de dente oficial, tem que estar gasta, senão não adianta, não adianta ter uma boa agora, o efeito é o mesmo da condor laranja vagabunda.

Mas esse papo é besta, e o que eu queria mesmo dividir com vocês é sobre as minhas impressões das cidades, que estão mudando. Começo a ver Vitória de um jeito diferente. Uma cidade emprestada. Familiar, mas emprestada, de ladinho. Começo a ver como a mobilidade é péssima, como a orla é bonita. Percebo como a cidade passa a ser feita de pessoas, aquelas pessoas que sincretizam o que sempre vou buscar lá. E que meus olhos já não estão mais anestesiados quando passa algo novo, construído nos últimos meses. Começo a ficar de turista, procurando os botecos recém surgidos pra não ficar muito marginal de tudo que nasce.
 
Daí que veio essa primeira impressão de que eu estava homeless. Desculpa o termo em inglês, mas tem umas palavras de outras línguas que são melhores que o português – poucas, mas existem.  E estar homeless é essa sensação de que você não pertence a lugar nenhum. Ou que carrega a casa nas costas. Gosto do jeito que Osho descreve isso no seu tarô – ele fala de uma tartaruga, que carrega a casa nas costas, mas a casa não é tudo que você precisa, é só o que você precisa. Tipo uma escova de dente, ou menos que isso, se você for mais evoluído budísticamente falando.  

Hoje, pela primeira vez, recebi um tapa. Desci no Santos Dumont blaseé, e acho que foi a primeira vez. Blaseé, sem olhar pros lados, e com aquela alegriazinha no coração de ter voltado pra casa, de pertencimento à cidade. Agora, é aqui. Que coisa estranha. Lógico, quando fico aqui por muito tempo tem um pedaço que fica de fora, que é toda a minha infância, porque o que tenho é um conhecimento da cidade construído pelo Google Maps e não pelo empirismo. Aprendo o Rio em regras escritas em caixinhas verdes, como nos livros de inglês, e não ouvindo os mais velhos falarem sobre isso. E nem os  mais novos. Talvez por isso eu sinta que é estranha a sensação de “que bom! Voltei PRA CASA” ao descer de um Santos Dumont. E como acho mais fácil lidar com as coisas aqui, e como fico patinando para pegar um ônibus em Vitória.

Pertencimento é tipo um interruptor, você pode virar uma chave que ele muda. Sabia? Não é ser homeless, apesar do que, pra mim, a ausência de um sentimento de casa pode ser a presença da casa em todos os lugares, é a essa conclusão que ainda não cheguei, se a gente é um ou outro ou tudo. Só sei que fui pega de surpresa com essa sensação hoje, eu realmente não estava esperando por isso, e tive que dividir com um amigo que já mudou algumas cascas de vida, e ele achou tão simples isso tudo, a minha grande descoberta. Acho que é porque ele já é three way.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O post do Cesinha




Cesinha Fernandes “Quero um post, um vídeo e um curta sobre como é legal me receber amanha na sua casa carioca. Como é legal limpar a casa, comprar café e açúcar (quando o erly nao come tudo), afofar os travesseiros e avisar pro seu Henrique que vamos falar alto a noite toda. Como é divertido me levar no Saara e enganar a Tati que vamos pra praia.

Já acordei morrendo de rir, mas logo isso virou uma tristeza, nostalgia, sei lá o quê. Porque você não tem ideia de como eu gosto mesmo quando tem visita. Eu marco com uma carinha feliz no meu celular e fico esperando a data que nem criança esperando 12 de outubro. Eu faço faxina, quase sempre, que aqui não tem pó de minério e nem sempre vocês reconhecem a diferença entre uma casa limpa e uma casa sem pó de minério, e deixo a Frida no quarto pra dizer que quem está esperando é ela. Eu adoro quando vocês vem, sempre gostei de receber e aqui a situação de carência amizádica tá bem pior.

É engraçado isso. Prefiro receber aqui do que ver em Vitória, pra falar a verdade. Lá, preciso me esticar pra encontrar todo mundo. Aqui, as pessoas são MINHAS. A qualidade das conversas são melhores, porque são separadas e porque sabemos que não temos todo o tempo do mundo, e quero sim que o dia tenha mais de 24 horas, e vou colocar chá verde no suco pra ninguém dormir. E como a vida fica suspensa por alguns dias quando vocês vêm aqui, e como insuportavelmente volta ao normal quando vocês vão embora.

Vocês não sabem como eu queria ficar jogando conversa fora no Nininho e deixar a conversa acabar, e ficar em silêncio porque cansamos de falar sobre trabalho, mas acho que estou fantasiando, isso nunca aconteceu. E vocês não têm a menor ideia de como a ausência de certas coisas dói dói dói às vezes, um comentário explicando uma TV aberta que não sei ver, um músico que não sei quem é, um conselho que ninguém vai dar e tenho que fazer decisões sobre a minha vida sozinha, ninguém devia ter que passar por isso. E eu não tinha ideia de que essa seria realmente a parte difícil de me mudar.

Gravamos ontem, estou numa ressaca monster e totalmente sentimental, aproveite esse momento. E já que é para fazer um post, que seja pra dizer como eu odeio ir ao Saara, mas já que é pra ir com vocês, tá legal. E que fico programando com antecedência coisas que acho que vocês vão gostar de fazer, e depois ainda levo a fama de ser tirana da programação. E como eu adoro praia, mas prefiro fazer alguma coisa que todo mundo goste, e enganar a Tati todo mundo gosta.

Agora vou tomar um suco detox e talvez até dar uma faxininha na casa, já que esse vôo não chega nunca. Ah! Mais importante: hoje vamos ver TV até a Anitta aparecer na propaganda do supermercado daqui, essa sim é uma coisa importantíssima que preciso muito mesmo mostrar pra vocês.   

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A alcateia

 
 
Fé é subir um primeiro degrau sem conseguir ver o resto da escada.

Rá! Eu estava louca de vontade de começar um texto com uma frase autoajuda, gente, não me contive. Mas vamos lá.

Desde que comecei esse blog, disse que vim pro Rio para ampliar meus horizontes. Obviamente isso tinha mais a ver com a esfera profissional do que tudo. Só não tinha abordado ainda o tema trabalho porque invariavelmente preciso ruminar as coisas antes mandá-las ao vento. Dito isso, recomendo que vocês leiam o post “O glamour da produção” antes desse, porque gosto de coisas cronológicas e porque vai ajudar o entendimento. Ou não, foda-se também, quem sou eu pra dizer que post você tem que ler antes.

Bem, estava eu já instalada aqui no Rio, e com algum dinheiro em caixa que fiz de freelas. Podia me dar ao luxo de pensar no que queria trabalhar aqui, sem ter que atirar meu currículo pelos quatro cantos de tudo quanto é loja de sapato (até porque, socorro, eu não venderia algum). Sempre gostei de TV fechada, e a bolsa da Dilma veio a calhar (pra quem não sabe, a presidente colocou uma cota que estabelece uma quantia mínima de tempo de produção nacional nas TVs fechadas. Ééééé, é por isso mesmo que você tá vendo um monte de porcaria na sua tevezinha fechada preferida agora!!!!! Descobriu!!!! Mas tem um monte de coisa boa também, e como eu faço parte do grupo beneficiado tenho que agradecer à Dilma. Obrigada, Dilma).

Daí que comecei a conversar com as pessoas, beber cerveja, e se quer uma dica, aqui no Rio é assim que se faz negócio. Não enviei um currículo sequer a quem não pediu expressamente para um trabalho no qual julgou que eu me encaixaria. Essa estratégia acabou me levando a trabalhar com um amigo, virou amigo agora, pra ser mais precisa, um cara que já trabalhou comigo em Vitória, em outra função, mas na mesma rede. Ele, com um sócio, estavam estruturando uma produtora e me “adotaram”. Foi isso. Não sei até que ponto isso tinha a ver com a real necessidade de uma jornalista lá dentro, ou se foi o espírito que bateu, mas o fato é que já havia uma equipe formada e eles me colocaram pra dentro. Sabe o que isso significa?

Entrar em uma equipe de TV é mais ou menos tentar fazer parte de uma alcateia já formada. Logo que você tentar entrar, todo mundo vem cheirar o seu rabo, só pra poder dizer que fede. Todo mundo vai brigar com você, ou pelo menos discutir, só pra medir o seu limite, o tamanho da sua força, os seus dentes.  Todo mundo quer saber se você pode feder a ponto de virar um macho alfa. Aliás, esse mundo é tipicamente masculino, é bom reduzir a feminilidade ao bastão do batom ou você pode se dar mal...

Mas depois que a alcateia está formada ela vira uma fortaleza. Trabalhar na rua, com todos os obstáculos diários, é impossível se não for assim. Então, regra número 1: nunca, jamais, em tempo algum contradiga o que um companheiro de trabalho disse para uma terceira pessoa. Depois você vai lá tentar entender com ele porque ele disse aquilo, mas roupa suja se lava em casa!

Regra número 2: tente ao máximo não extrapolar a sua função. Isso não é proatividade, aliás, é sim, e proatividade é uma merda. Fique na sua, que todo mundo ali sabe o que tem que fazer e cada um faz a sua função melhor do que você faria.

Regra número 3: reafirme os laços. Beba com seus colegas de trabalho. Retire os piolhos deles.

Não sei pra quê estou falando isso, mas enfim, essas são regras de ouro para mim, porque eu já me f*** muito quando não as segui e porque estou me sentindo muito bem sucedida, já que acabei de ser aceita em mais um grupo, e esse grupo é realmente especial. Claro, todo trabalho tem seus poréns, mas o fato é que caí numa alcateia de lobos anômalos. O produtor não é frustrado, pelo contrário, acabou de chegar aos 30 e me parece bem satisfeito na sua função. O câmera não reclama. ELE NÃO RECLAMA! (Isso pra mim já não é anomalia, é um milagre, só não é mais miraculoso porque ele não fala nada, então não reclamar é só uma extensão da sua personalidade). O editor não reclama que falta imagem, nem que sobra. Aliás, o editor é macho alfa da gang, o que é a maior anomalia que já vi. O outro alfa é o cara que cuida das contas e das pessoas, um pseudo-z... ah, deixa pra lá. 

Esse povo tinha uma ideia na cabeça e uma produtora nas mãos. E calhou de me convidarem para um projeto independente (projeto independente é o que você gosta de fazer, mas não recebe por isso) em formato de TV para internet. Claro, torci o bico pra dentro, sorri por fora, mas fui me acostumando à ideia. Eu gostava de TV fechada por falar com um público específico, isso traz muita liberdade. Agora... TV pra internet é muito foda, gente! Não impõe nada para as pessoas, é de graça, se você gosta do produto se sente bem em compartilhar, se você não gosta, simplesmente não assiste. Tão inteligente! Me apaixonei pelo conceito todo, e por isso também voltei a escrever.

E meio ainda sozinha, numa água de março a gente começou a gravar, e como pau e pedra correm juntos quando estão no mesmo rio, tudo acabou virando uma coisa só. Fazia todo sentido. Tudo é Rio. Tudo é 30. E nessa idade, eu já não aguento muito mais falar sem ser abordada pelas minhas próprias palavras DEPOIS, que saem sem permissão alguma, então tinha mesmo que ser livre. Demorou, porque projeto independente demora mesmo, porque você tem que colocar as coisas que pagam as contas antes e porque você não tem o menor motivo de fazer aquilo, então que seja bom de fazer. E o resultado é que agora o blog ganha um braço, que é um canal de TV no Youtube.

Nesse canal traremos registros de programas para se fazer no Rio que fogem da mesmice. Tudo com os olhos de alguns balzaquianos que gostam de comida bem feita, cerveja importada, lugares e pessoas interessantes. Ah, e todos são fãs incondicionais de Anthony Bourdain.

Espero sinceramente que gostem, porque vocês trilharam esse caminho comigo até aqui. Se não gostarem, gritem, que talvez eu escute no ouvido bom. E se fé é subir o primeiro degrau sem conseguir ver o resto da escada, tá tudo bem, né? Pode ser só problema de vista. Mas que dê pra gente ver o início, pelo menos.

***

Servicinho básico:

Agora o blog Rio aos 30 tem três produtos: o blog, o canal na internet (youtube.com/rioaos30) e a página no Facebook (facebook.com/rioaos30).

O blog continuará trazendo textos sobre esse universo de mudança, de Rio, de 30 anos. Independente do programa. Mas também vai trazer um texto referente ao lugar que conhecemos, para quem quiser o registro escrito. Já a página no Facebook será alimentada com informações diversas, serviço dos passeios, a trilha musical dos programas, fotos, etc. E o canal, obviamente, será a casa dos registros audiovisuais.

A equipe também pediu que eu fizesse uma apresentação à la Bell Marques, missão que eu cumpri com mestria, então aqui http://www.youtube.com/watch?v=dMpc445l6Ts
já tem um teaser demoníaco para vocês verem o que acontece quando a gente escreve o que pensa. As pessoas se vingam da gente. E nesse caso, foi o editor, que é Deus na televisão, ele faz o que quer e cria verdades (espero que essa frase melhore a nossa relação daqui pra frente).

No mais, continuamos nos falando pelo Facebook, e ah, sim, estreamos semana que vem!

domingo, 29 de setembro de 2013

O glamour da produção


-Você vai fazer o quê? Publicidade ou jornalismo?
-Jornalismo. Mas quero ser repórter de TV.
-Que legal! Por quê?

-Porque eu odeio ler.

Eu JURO para vocês que esse diálogo é verídico, e aconteceu comigo e mais uma menina na sala antes de começarem as provas pro vestibular da Ufes (a menina é que queria ser a repórter, veja bem), e não me perguntem o ano que “nem as máquinas do tempo voltam tão longe” (LOVATO, Demi, 2013). Esse diálogo é a personificação do conceito que as pessoas têm sobre a TV: a glamourização de um trabalho que na verdade é xexelento, minucioso, afogado em rolos de fita crepe, papel velho amassado no bolso, pó vazando na bolsa e bolsa com fundo preto de ficar no chão.

A expressão que dá título a esse post foi bem utilizada por uma amiga produtora, muito competente por sinal, que inclusive fez uma minissérie irônica e divertida de fotos no instagram denominada “o glamour da produção”. Nas fotos, ela aparecia sem medo sempre ridícula, com uma touca na cabeça, carregando um tripé pesado, suada, cansada... Porque é assim, é chato e cansativo, e só imbecis continuam fazendo isso porque gostam.  Por isso, hoje resolvi escrever sobre a equipe de TV, para quem ainda tem essa forte ideia na cabeça de que as pessoas são lindas e fantásticas, ah, como eu gosto de destruir as concepções alheias positivas. Mas vamos lá, uma equipe de TV é formada por:

O produtor

O produtor é um medroso doido pra aparecer na câmera, mas que não tem colhão de dar a cara à tapa. Achou realmente que é glamouroso ficar no telefone o tempo todo e que a TV era um mundo onde as pessoas em volta fariam o que ele mandasse.

Defesa: Como já estive nessa posição, e de vez em quando ainda produzo algumas coisas, vou defender a espécie: é triste quando a gente enfim descobre que o tal “poder” não passa de trabalho escravo e que o resto do mundo tá cagando pro que você faz, e muito mais, que nem entende como funciona, então você tem que explicar tudo timtim por timtim, e como é chaaaaaaato para caralho fazer essa porra, e a base da cadeia alimentar salarial, só mesmo os fortes permanecem produtores depois de fazerem 30 anos. (E sim, há os produtores que não querem ir para frente da câmera. Esses são os melhores).

O câmera

O câmera tradicionalmente é um mala reclamão. Passa o tempo todo torcendo para chover e a pauta cair. Sempre começa uma pauta com ares de diretor de fotografia da Discovery ou reclama que não dá pra fazer imagem alguma ali. Ele necessariamente vai reclamar também do trabalho do produtor.

O editor

O editor, então, é um  chato de galocha. Ele necessariamente vai reclamar do trabalho do câmera. Você vai ouvir três vezes na vida eles dizendo que chegou com a quantidade certa de imagens, o cérebro deles não permite que eles pronunciem essas palavras com facilidade, então é muito, muito difícil isso acontecer. Ou tem demais e vai dar muito trabalho editar, ou tem de menos, impossível trabalhar desse jeito.  E, independente do resultado,  fazem questão de dizer que sentiram falta DAQUELA imagem, uma coisa absolutamente impossível de ser feita, mas que ele jamais saberá disso porque não levanta a bunda da ilha de edição pra nada e não conhece o mundo real.

O apresentador

Um ego pretensioso, com um custo-benefício nas alturas, porque um macaco consegue falar esse texto e esse mané não, e ainda assim costuma receber mais do que os outros.

Defesa: como eu estou atualmente nessa posição, a defesa vai ser grande e começa com a pergunta: você já tentou fazer isso, seu fd putinha? Então para de achar que é fácil. Segundo, você não tem ideia de como é difícil se ver na TV. O seu ar pretensioso não passa de uma casca dura que você teve que cultivar ao ver que a sua boca é torta, sua sobrancelha é falhada, seu olho esquerdo parece que sofreu um derrame, e ainda por cima de vez em quando desce uma pomba-gira que te faz ficar com uns trejeitos escrotos que você não sabe de onde saiu, ainda mais quando fala o texto com tons de voz que surgem do nada. (Certa vez eu fui falar que uma cahoeira tem 40 metros e do nada saiu a palavra quareeeennnnnta que é piada interna até hoje, e todos os meus amigos filhos da puta ficam buscando no mundo oportunidades de falar esse número só para me sacanear.)

Finalizando, você vira um buda da apresentação quando para de lutar contra isso, porque já entendeu que é um tolo disléxico incapaz de fazer melhor. Com o ego esfacelado, você desiste e na primeira tomada fala “pra mim valeu”, que pelo menos assim o câmera não vai te odiar para sempre por ter que repetir essa porra mil vezes, ele já sabe bem antes de você que não vai ficar melhor.

O diretor executivo

O diretor executivo é um pseudo-zen que lida com pessoas e números. Você acha que essa fórmula dá errado? Dá mesmo! Por isso normalmente eles fazem ioga, ou são vegetarianos, essas merdas que passam a impressão de serem mega calmos. Deve ser para não ter que fazer terapia, ninguém em sã consciência consegue lidar bem com pessoas e números. Ou ele paga de zen pra te mostrar como você é um “desespiritualizado”, e se utiliza disso para negociar seu cachê, quê isso gente, dinheiro é só um detalhe na vida das pessoas, seu consumista de uma figa.

O diretor

O diretor é o cara que delega tanto, mas tanto, que depois tem que viver tentando provar sua real necessidade para o resto do grupo. Ele é importante quando dá uma merda maior entre os membros da equipe, aí seu ego infla num efeito baiacu fantástico e todo mundo em volta fica com cara de sardinha enlatada.

O cara do som

Hein? Quem é esse cara?

Pronto. Se você tiver um espécime de cada, já pode começar a fazer TV. É fácil, lindo e glamouroso. Boa sorte.

domingo, 22 de setembro de 2013

Rock in Tio



“Será que dá pra entrar com fruta na bolsa?”

(Oh, no. Quando você se preocupa com esse tipo de coisa ao ir prum festival de rock, tá na cara que passou da hora de ter feito isso).

“Tem certeza, posso colocar papel alumínio em volta? Não vão pensar que é uma dola de maconha não, né?”

(Ufs).

O fim de semana passado foi assim. Repleto de dúvidas das mais idiotas. Porque antes eu ficava preocupada em amarrar uma camisa xadrez em volta da cintura para não sentir frio. Agora tem que pensar em tudo, é uma operação de guerra! Não pode confiar na comida de lá, com certeza é “comida de menino”, pizza, cachorro quente e hambúrguer. Tem que se hidratar pra não passar mal. Aproveita toma um Engov logo, que amanhã você trabalha e não pode mais se dar ao luxo de fazer isso meio bêbada. Já fez, mais de um milhão de vezes, mas não dá pra fazer mais, porque... ah, porque não vale a pena.

Eu lembro a primeira vez que tive vontade de ir ao Rock in Rio, foi quando ouvi um vinil bicolor que minha irmã tinha ganhado de presente e gostei das músicas. Eu lembro que sabia que essa tal festa era muito especial, e me perguntava porque a gente (no caso, minha família, eu papai, mamãe, irmãos) não tínhamos ido pra lá. Mas a coisa ficou assim, tipo uma nuvem lá atrás. Não lembro que ano foi isso, mas não importa muito. Quem se lembra desse vinil sabe que isso foi em OUTRA ERA. Isso foi ANTES do RiR deixar de existir, para depois ressurgir das cinzas, agora, anteontem.

Semana passada fui ao festival pela primeira vez. Sinto que dessa vez a vida não me deu a oportunidade na hora certa, pra ser bem sincera. Isso era pra ter acontecido há uns dez anos, quando a preocupação era amarrar a camisa xadrez na cintura. Eu realmente queria ter postado uma foto no instagram fazendo beicinho e o símbolo do capeta na mão, mas não rolou, gente. Não que tenha sido ruim, mas acho que paguei caro demais pro show de rock celta maluco que, aliás, foi o que mais gostei, de tudo. Daí você fica pensando na infraestrutura... e elogia que o banheiro tava bem limpinho. Tem até uma certa vontade de descer na tirolesa, mas imagina o trampo para chegar até lá. Come a fruta que carregou na bolsa porque tá começando a pesar. E lembra de beber uma água de vez em quando.

O festival de fogos foi lindo! Depois começou Jota Quest e eu fui pegar uma cerveja. Fui cativada pelo rock celta e lá fiquei até começar a Alicia Keys. O show da Alicia Keys foi a coisa mais chata que me lembro de ter presenciado nos últimos tempos, e com certeza a coisa mais terrivelmente chata que já paguei para fazer. O festival virou um chill out gigantesco, todas se estapeia pra conseguir um metro quadrado no chão (pode ser o de cimento mesmo, o espaço no gramado acabou) para deitar e dormir. DORMIR! Não tipo bater um papo e esticar as pernas. Tipo dormir de conchinha e babar no braço do namorado. Assisti ao show todo, tentando acreditar que ia melhorar. Uma música lá melhorou mesmo, foi quando a Maria Gadú subiu ao palco. “É impressão minha ou a Gadú tá DANDO UMA FORÇA para Alicia? É, isso mesmo”. Que coisa.
 
 
Não aguentei. Fui embora antes mesmo de ver Justin Timberlake, o tal show mega blaster da noite. Foi até gostosinho, não peguei fila, vim sentadinha no ônibus de linha, ainda bem que não bebi demais, o motorista tava cascapeta, com certeza eu vomitaria se estivesse bêbada. E a gente chega mais cedo, dorme gostosinho na cama, minhas pernas estão me matando, a coluna então, tô sentindo cada desvio da lordose E da escoliose nesse momento. Se tivesse um Starbucks lá, eu até ficava mais. É isso, faltou um Starbucks. Porque a juventude toma ácido, e a gente fica aqui, órfão de um droga que o corpo ainda processa. Não é que eles sejam mais animados, é ácido, tô te falando.

***

Depois de uma semana, descobri, vendo televisão, que não cheguei sequer a conhecer o festival todo.
-Caralho, esse palco aí eu nem vi. PQP! Não acredito que eu não vi um palco gigantesco desse!

-Jura que você não viu? Tava do lado da montanha russa!

-Tinha uma MONTANHA RUSSA lá dentro????