Se você não for católico fervoroso e não estiver a fim de
fazer a peregrinação por aqui junto com a galera da Jornada Mundial da
Juventude, pode ir ao supermercado. O programa é parecido, pelo menos no que
diz respeito ao tempo e à dedicação.
Para começar, não dá nem pra chamar de supermercado essas mercearias que os cariocas têm. Com corredores apertados, mal dá pra passar um carrinho, se vier alguém na sua contramão já era. Daí você tira o teeeeempo que leva pra pegar tudo e chegar ao caixa. Se bem que não vai demorar muito – o preço dos artigos de higiene pessoal são tão caros que não dá pra comprar no supermercado. Também não tem muita variedade: marcas de shampoo, condicionador, desodorante, sabonete, pasta dental, tudo isso, o conselho é comprar na farmácia, muito mais barato. E não adianta fidelizar: eles fazem questão de trocar as marcas das coisas a cada semana! Triste vida, quando algum amigo vem me visitar e resolve propor de cozinharmos um prato determinado, eu tenho que explicar que por aqui não se escolhe o cardápio antes de ir ao supermercado, vamos ver o que tem por lá e daí a gente pensa, tipo coisas da época, na roça, só que não.
Existe um problema parecido com a sessão de higiene pessoal
que é a sessão de hortifruti, e o problema é que não tem. Não tem nada de folha. Nada de ervas frescas. Os legumes, como
Capitu teria se uma cenoura fosse, têm casca de ressaca. Certa vez procurei
durante um tempão por batatas inglesas e, não conseguindo achar o produto de
jeito nenhum, me dirigi a um repositor, que logo me afirmou que estava em
falta. Perguntei a ele se já estávamos vivendo a terceira guerra mundial e ele
não entendeu. Fora o preço: já paguei cinco reais num maço de rúcula, gente!
A jornada continua quando você crê que está levando pra casa
um produto em oferta. Mas ofertas, no Rio, são necessariamente enganosas – ou o
produto não está disponível, ou a informação veiculada está errada, ou a foto
está errada, ou você nem vai perceber, porque confiou que o preço era aquele da
etiqueta e na hora de verificar a nota fiscal viu que pagou bem mais. Aliás,
prática comum é não bater o preço da etiqueta com o do caixa. (Vou tentar refazer
mais uma vez essa frase, corretamente agora), QUANDO TEM UMA ETIQUETA identificando
um preço tá ótimo, normalmente não varia muito no caixa, aquela etiqueta, vocês
sabem, talvez o povo carioca tenha ficado tão acostumado com os tempos de
inflação ao dia dos anos 90 que não se importa pelo fato de o preço variar do
momento que você pegou o artigo até pagar, o engraçado é que às vezes eles
erram para baixo, e não adianta tentar ser honesto e tentar pagar o valor cheio,
desculpa mamãe, essa manobra pode levar uns dez minutos só para alguém
aparecer e verificar a etiqueta, ficam então elas por elas, o que se paga a
mais devolve-se no que fica por menos, que no Rio não tem preço, tem
estimativa.
Aí você está no caixa, se for no Pão de Açúcar vai ouvir “cliente
Maixxxxx?” e tem que responder rápido, como se o resto do serviço todo
acompanhasse a urgência da mocinha de maquiagem de olhos bicolor, elas estão
sempre num dia péssimo. Se for no Mundial ela vai te perguntar “é no dééééébito?” e se acaso você disser, “crédito”,
ela vai encher a boca pra retrucar “aqui só aceita débito”. E se você for no Apolo,
não adianta gritar que levou sua sacola retornável que elas vão colocar saco
plástico até na sua cabeça para ver por quanto tempo você consegue ficar na
apneia. E se for no Zona Sul eles vão fingir que o serviço é bom. E se for no
Prezunic, Princesa, Rede Mais, Redeconomia, Extra, não adianta, não falta rede
de supermercado aqui e nada vai te impedir de seguir sua peregrinação pelo
hortifruti e pela farmácia depois disso tudo.
Para completar, existe por aqui o que eu denominei de “fenômeno
cem reais”. Vai fazer um macarrão à bolonhesa no fim de semana? Então macarrão
+ molho de tomate + carne moída + manjericão = R$100,00. Esqueceu o manejricão?
Volta no supermercado e compra = R$100,00. É sério. Não se esqueçam de nada. Façam
listas. Repassem.
***
Prefiro fazer compras num Perim em chamas que num supermercado
do Rio de Janeiro.
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