Fiz 32 anos
há dois meses, mais ou menos. Não teve festa, não teve bolo, não teve foto no
instagram. Fiquei na conchinha, debaixo do lençol, curtindo essa coisa de ser
introvertida. Sou tímida aos 32 anos. Ou mais impaciente. E mais cansada, com
certeza. Para não irritar os outros com uma falsa euforia, guardei-me para dias
melhores... Ora, esses dias estão ótimos! Porque não se pode curtir uma
introspecção de vez em quando, não é mesmo?
Acho que
ando falando demais com gente nenhuma. E gente nenhuma é, na maioria das vezes,
uma ótima companhia.
Eu estava
sofrendo há um tempo atrás pelas pessoas do passado sumirem, e alguma coisa de
fato aconteceu. Como as experiências compartilhadas diminuíram agora, parece
que estou me aproximando das pessoas distantes. Gente que não vejo há quinze
anos cruza comigo em alguma rua do facebook e daí descubro que a pessoa tem uma
história parecida, com alguns pontos de intersecção com a minha.
Isso aconteceu
há pouco tempo com uma amiga dos tempos da Escola Técnica, acho que ela fazia
Metalurgia, eu fazia Eletrotécnica (isso eu tenho certeza, por mais estranho
que pareça), a gente se cruzou na biblioteca. Hoje, ela é continuísta de
cinema em Sampa, e eu aqui, também na área audiovisual, no Rio. E o que temos
em comum? Tudo, gente!
Fomos pra
uma salinha (inbox do face) e ficamos conversando durante algum tempo. Falei
pra ela dessa agonia louca que sofri há alguns anos. Essa vontade de chutar o
balde tão longe que não daria pra ver onde ele cairia. E ela me presenteou com
a teoria do Retorno de Saturno.
Ela descobriu
uma parada astrológica que afirma que, por volta dos seus 28 anos, Saturno
retorna na sua vida (não sei explicar essas merdas, não sou astróloga, mas deu
pra entender), fazendo com que a gente sinta essa vontade doida de refazer a vida,
de pagar as contas, de limpar o passado pra começar uma nova fase. Confessei
que senti isso muito ao pé da letra, inclusive entrando em contato com pessoas
de um lodaçal amontoado no passado pra ver se estava tudo bem, dizer oi ou
desculpa.
“É isso
mesmo!”, dizia ela, na nossa salinha. “Eu também passei por isso. E olha, às
vezes Saturno bate tão forte na gente que dá até uns revertérios no corpo!”, “Jura,
eu também, desmaiei algumas vezes, nunca descobri o porquê, só descobri a
chatice do colesterol alto”, (aliás, preciso falar pra vocês, parei de tomar
aquele remédio xexelento, tava me dando taquicardia, decidi que colesterol alto
é relativo), e então ela disse “eu também!
Passei mal e desmaiei algumas vezes”, que coisa, tá vendo, essa coisa de mudar
dá nessas coisas.
Fiquei tão
entusiasmada que dividi a história do Saturno com um amigo professor que de vez
em quando dana a ouvir minhas lamentações à toa. Com seus cabelos prateados, como
sempre, ele destruiu em uma frase aquilo tudo, “como a gente se encanta com a
explicação fácil, não é mesmo?”
Pronto. Meu
Saturno caiu, mais ou menos, porque essa história tava muito.bem.explicadinha
pra eu deixar ela morrer assim. Só deu uma desativada na euforia. Mas eu sei
que Saturno me atazanou, gente! Porque não é normal que eu apagasse as 28
velinhas e do nada virasse um cão babando de raiva (a doença, no caso, e “metaforicamente”,
odeio quando as pessoas escrevem “literalmente” sem saber que porra é essa,
fico morrendo de raiva, o sentimento, nesse caso), portanto, um cão sarnento
procurando uma parede pra coçar as costas, mas tinha que ser uma parede bem
longe, e aí, o final da história aposto que vocês já sabem, Saturno te dá
quatro anos pra resolver essa parada. Até o 32. Pontualmente.
Aí você nem
apaga velinha mais. É um regozijo interior (por que ainda usamos essa
palavra horrível?), é uma dávida saber que você sobreviveu. E venceu. E lavou
toda a sua roupa suja astrológica. Pode voltar pra sua casinha, Saturno! Pra
quem tá nessa fase, eu afirmo, paciência que uma hora Saturno retorna do retorno.
PS> será
que é Marte que tá aqui em cima agora?
PS2> ah
não. É o ovário ruim.
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