Estou com Síndrome do Pânico. Uhum, tomando remédio controlado, indo no psiquiatra, fazendo ioga e tentando, pelo menos, não beber. Você também? Ah, conhece alguém que já passou por isso? É assim mesmo, é só o primeiro doido levantar a mão que chove maluco em volta. Ah, não? Isso é coisa que nunca vai acontecer com você, certo? Bem, boa sorte aí com a sua normalidade, saiba que eu pensava exatamente desse jeito até... acontecer comigo.
E foi assim, bem clichê. No último
de uma campanha política na qual eu estava trabalhando, no ano passado, acho
que aconteceu esse dia só pra ficar mais fácil de explicar mesmo, eu não
colocaria a culpa nisso, ou pelo menos não só nisso. Fato é que era o último
dia e saímos todos para beber a cerveja do dever cumprido (óbvio que eu já
estava com uma ressaca monstra de uma festinha de fim de trampo que tinha
rolado no dia anterior...). Eu estava indo pro bar no carro de um colega de
trabalho, de repente começou: uma onda de adrenalina forte demais pra ser
legal, vocês sabem, adrenalina na verdade é o corpo dizendo que vai morrer, ou
tentando fazer essa experiência ficar menos ruinzinha, eufemista que é até na
hora da morte, pois bem, uma onda gigante de adrenalina, não o tsunami de quando
saltei de paraquedas e meu cérebro pensou que eu pudesse voar, foi o tsunami de
quando saltei de bungee jump e minha cabeça tinha certeza que eu ia morrer. Tipo
o sushiman que erra um pouquito na dose do baiacu, sabe? Síndrome do Pânico é
isso: não achar, e sim ter certeza que tá na sua hora de dar uma morridinha.
Mas enfim, eu nunca experimentei sushi de baiacu e você deve ter uma noção de
como eu tava assustada.
Depois veio um vácuo. Um vazio
sinistro, como se todo o meu corpo tivesse sido drenado de adrenalina e só
restassem as gosmas da depressão. Depois, adrenalina de novo. E gosma da
depressão. E assim foi, comigo ridícula no carro já com as pernas pra cima,
fazendo uma “manobra de sobrevivência” enquanto meu colega me perguntava
assustado se eu estava bem, e eu tentando não dizer pra ele que sabia que ia
morrer pra ele não ficar muito sobressaltado, “imagina, é só que tenho um
defeitinho no coração e tenho a REAL impressão de que ele vai parar AGORA, já
desmaiei algumas vezes, se isso acontecer de novo você já tá sabendo, pode ser
só pressão baixa também”, e ele pisando cada vez mais fundo no acelerador,
desesperado e também tentando disfarçar, e perguntando a cada cinco minutos
como eu me sentia, acho que só pra saber se eu ainda não tinha desmaiado.
Prolapso da válvula mitral,
ninguém morre disso apesar do nome orrywell. Defeitinho bobo no coração, você
também deve ter, mas ninguém morre disso, fica tranquilo, só tem que tomar
antibiótico antes de ir pro dentista, senão uma bactéria mortal entra pelo seu
dente e vai direto pro seu coração e aí sim, você morre, e em bem pouco tempo, já detonou um atleta do basquete fortão em dois dias, isso tudo quem me contou
foi o meu cardiologista, maluco, isso é coisa que se diga?, devia ir no
psiquiatra também.
Enfim, chegamos ao bar e EU NÃO
MORRI!, apesar de toda a expectativa. Liguei pra minha irmã, coitada, é sempre
ela a me salvar, foi me buscar e eu toda guenza, “Você não tá bem”, “Tô mais ou
menos”, “Tá sentindo o quê?”, “Tô sentindo certeza absoluta que vou morrer”.
Ora, lá foi ela, com toda a sua experiência, ficou conversando comigo, catando
detalhes e prontamente saiu com um diagnóstico, e a receita, e o remedinho
também, minha irmã é muito eficiente para essas coisas. “Toma aqui, bota meio
Rivotril embaixo da língua que vai passar” , “TÁ MALUUUUCAAAAA? SE EU TOMAR
RIVOTRIL EU VOU MORRRREEEERRRR”, “Vai nada, isso é dose pra criança”, “Vou sim,
vou sim, tira isso de mim”, “Helena, sabe o motivo desse ser um dos remédios
mais tomados no mundo todo? É que não dá pra morrer dessa porra, não existe overdose
de Rivotril”, “Tá bom, só meiota então”, “Pronto, daqui a cinco minutos mais ou
menos você vai parar de ter certeza que vai morrer”.
E assim foi. Como eu já disse
minha irmã é joia pra essas coisas. A outra parte eu conto depois pra você, que
esse papo de doença enche a cabeça de qualquer um, mas posso te adiantar que
fui a um psiquiatra de verdade e ele me diagnosticou também. Aí caiu a ficha. É
isso. Tarja preta. Credo. Isso não é o tipo de coisa que acontece comigo.
Mas
quer saber? Pode ser que quem pira não é exatamente quem não aguentou o tranco.
Quem sabe se quem pira é quem tenta se superar demais? Não é pra me livrar da estranheza
que a caduquice traz não. Mas eu sempre tive uma certa empatia com pais que
deixam crianças enfiarem o dedo na tomada. Malvadona, eu sei. Mas é quase o contrário... e eu estou
tendo cada vez mais certeza que eu sou a criança que sempre enfia a porra do
dedo na tomada, e antes de todo mundo ainda por cima. Pra nego ver que a gente
sobrevive, e eu sei de um segredo antes de todo mundo, mesmo que às vezes o segredo seja um choque.
Ou então a
crise é o corpo falando “paraê, cacete, dá um tempo” e isso é coisa de gente
normal, porque gente anormal o corpo simplesmente não avisa e dá ruim.
De fato, isso aconteceu há três
meses e já deu tempo pra eu dar uma digeridinha no assunto, claro, eu que não
ia escrever pra você loucona de remédio e cheia de dor de cabeça. (É, tarja
preta dá dor de cabeça no início. Em mim dava dor no tubo neural. Só sei
explicar assim). Então, o que me explicaram de cara é que o tratamento consistia
em remédio, terapia e a parte haribol, ir pra natureza, fazer ioga, essas
coisas. Tô fazendo, em maior ou menor grau. Já passei por algumas fases, mas aff!, não vou te encher mais com esse papo hoje que é sexta feira e só sinto inveja
de você que vai tomar uma cerveja nesse calor infernal. O que posso te adiantar
é que apesar de putona com todo o processo, aprendi que o ângulo que se olha
pode mudar tudo. E quem sabe doença não seja exatamente a melhor palavra para o que
se alastrou em mim. Agora me parece mais
é que há três meses eu comecei um profundo processo de cura.
Sabe-se lá do quê.
Já conhece o nosso programa? Vai lá! www.youtube.com/rioaos30
Ainda não visitou nossa página no face? Quê isso! Curte lá! www.facebook.com/rioaos30