sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Rio aos 30 Crazy Edition


Estou com Síndrome do Pânico. Uhum, tomando remédio controlado, indo no psiquiatra, fazendo ioga e tentando, pelo menos, não beber. Você também? Ah, conhece alguém que já passou por isso? É assim mesmo, é só o primeiro doido levantar a mão que chove maluco em volta. Ah, não? Isso é coisa que nunca vai acontecer com você, certo? Bem, boa sorte aí com a sua normalidade, saiba que eu pensava exatamente desse jeito até... acontecer comigo.


E foi assim, bem clichê. No último de uma campanha política na qual eu estava trabalhando, no ano passado, acho que aconteceu esse dia só pra ficar mais fácil de explicar mesmo, eu não colocaria a culpa nisso, ou pelo menos não só nisso. Fato é que era o último dia e saímos todos para beber a cerveja do dever cumprido (óbvio que eu já estava com uma ressaca monstra de uma festinha de fim de trampo que tinha rolado no dia anterior...). Eu estava indo pro bar no carro de um colega de trabalho, de repente começou: uma onda de adrenalina forte demais pra ser legal, vocês sabem, adrenalina na verdade é o corpo dizendo que vai morrer, ou tentando fazer essa experiência ficar menos ruinzinha, eufemista que é até na hora da morte, pois bem, uma onda gigante de adrenalina, não o tsunami de quando saltei de paraquedas e meu cérebro pensou que eu pudesse voar, foi o tsunami de quando saltei de bungee jump e minha cabeça tinha certeza que eu ia morrer. Tipo o sushiman que erra um pouquito na dose do baiacu, sabe? Síndrome do Pânico é isso: não achar, e sim ter certeza que tá na sua hora de dar uma morridinha. Mas enfim, eu nunca experimentei sushi de baiacu e você deve ter uma noção de como eu tava assustada.

Depois veio um vácuo. Um vazio sinistro, como se todo o meu corpo tivesse sido drenado de adrenalina e só restassem as gosmas da depressão. Depois, adrenalina de novo. E gosma da depressão. E assim foi, comigo ridícula no carro já com as pernas pra cima, fazendo uma “manobra de sobrevivência” enquanto meu colega me perguntava assustado se eu estava bem, e eu tentando não dizer pra ele que sabia que ia morrer pra ele não ficar muito sobressaltado, “imagina, é só que tenho um defeitinho no coração e tenho a REAL impressão de que ele vai parar AGORA, já desmaiei algumas vezes, se isso acontecer de novo você já tá sabendo, pode ser só pressão baixa também”, e ele pisando cada vez mais fundo no acelerador, desesperado e também tentando disfarçar, e perguntando a cada cinco minutos como eu me sentia, acho que só pra saber se eu ainda não tinha desmaiado.

Prolapso da válvula mitral, ninguém morre disso apesar do nome orrywell. Defeitinho bobo no coração, você também deve ter, mas ninguém morre disso, fica tranquilo, só tem que tomar antibiótico antes de ir pro dentista, senão uma bactéria mortal entra pelo seu dente e vai direto pro seu coração e aí sim, você morre, e em bem pouco tempo, já detonou um atleta do basquete fortão em dois dias, isso tudo quem me contou foi o meu cardiologista, maluco, isso é coisa que se diga?, devia ir no psiquiatra também.

Enfim, chegamos ao bar e EU NÃO MORRI!, apesar de toda a expectativa. Liguei pra minha irmã, coitada, é sempre ela a me salvar, foi me buscar e eu toda guenza, “Você não tá bem”, “Tô mais ou menos”, “Tá sentindo o quê?”, “Tô sentindo certeza absoluta que vou morrer”. Ora, lá foi ela, com toda a sua experiência, ficou conversando comigo, catando detalhes e prontamente saiu com um diagnóstico, e a receita, e o remedinho também, minha irmã é muito eficiente para essas coisas. “Toma aqui, bota meio Rivotril embaixo da língua que vai passar” , “TÁ MALUUUUCAAAAA? SE EU TOMAR RIVOTRIL EU VOU MORRRREEEERRRR”, “Vai nada, isso é dose pra criança”, “Vou sim, vou sim, tira isso de mim”, “Helena, sabe o motivo desse ser um dos remédios mais tomados no mundo todo? É que não dá pra morrer dessa porra, não existe overdose de Rivotril”, “Tá bom, só meiota então”, “Pronto, daqui a cinco minutos mais ou menos você vai parar de ter certeza que vai morrer”.

E assim foi. Como eu já disse minha irmã é joia pra essas coisas. A outra parte eu conto depois pra você, que esse papo de doença enche a cabeça de qualquer um, mas posso te adiantar que fui a um psiquiatra de verdade e ele me diagnosticou também. Aí caiu a ficha. É isso. Tarja preta. Credo. Isso não é o tipo de coisa que acontece comigo. 

Mas quer saber? Pode ser que quem pira não é exatamente quem não aguentou o tranco. Quem sabe se quem pira é quem tenta se superar demais? Não é pra me livrar da estranheza que a caduquice traz não. Mas eu sempre tive uma certa empatia com pais que deixam crianças enfiarem o dedo na tomada. Malvadona, eu sei. Mas é quase o contrário... e eu estou tendo cada vez mais certeza que eu sou a criança que sempre enfia a porra do dedo na tomada, e antes de todo mundo ainda por cima. Pra nego ver que a gente sobrevive, e eu sei de um segredo antes de todo mundo, mesmo que às vezes o segredo seja um choque. 

Ou então a crise é o corpo falando “paraê, cacete, dá um tempo” e isso é coisa de gente normal, porque gente anormal o corpo simplesmente não avisa e dá ruim.

De fato, isso aconteceu há três meses e já deu tempo pra eu dar uma digeridinha no assunto, claro, eu que não ia escrever pra você loucona de remédio e cheia de dor de cabeça. (É, tarja preta dá dor de cabeça no início. Em mim dava dor no tubo neural. Só sei explicar assim). Então, o que me explicaram de cara é que o tratamento consistia em remédio, terapia e a parte haribol, ir pra natureza, fazer ioga, essas coisas. Tô fazendo, em maior ou menor grau. Já passei por algumas fases, mas aff!, não vou te encher mais com esse papo hoje que é sexta feira e só sinto inveja de você que vai tomar uma cerveja nesse calor infernal. O que posso te adiantar é que apesar de putona com todo o processo, aprendi que o ângulo que se olha pode mudar tudo. E quem sabe doença não seja exatamente a melhor palavra para o que se alastrou em mim. Agora me parece mais é que há três meses eu comecei um profundo processo de cura.

Sabe-se lá do quê.


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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Lista de Ano Novo



Todo início de ano eu não resisto e caio numa armadilha de autoajuda pra dizer que a vida é nova. Trata-se de uma pequena lista, ao menos a ideia é que seja pequena, de três coisas no máximo, para que só as grandes permaneçam, três grandes coisas que você quer realizar no ano que vem e três que você fez no último, isso para te dar o fôlego de pensar grande, já que conseguiu então fazer tais coisas no passado pode também sonhar algo à altura para o futuro.

Este ano não foi diferente e pus-me a pensar no que gostaria para o próximo ano. 

Vazio. 

Como se me sentisse tão realizada com tudo que já está acontecendo que não houvesse nada com o qual sonhar, mentira cabeluda essa. Pensei mais e de novo caí no vazio, como pode coisa dessas, vou começar com “emagrecer” que não tem erro, é o que encabeça a lista há pelo menos cinco anos.

Travei.

Melhor pensar no que realizei em 2014, assim as coisas correm, como já expliquei basta lembrarmos de quanto somos maravilhosos para sonhar com maravilhas.

Para minha total incredulidade esta lista também não saiu. Vamos lá, pense, pense, peeeeeeeeeennnnnsssseeeeeeeeeeee

e me vem então, claro!, as viagens que realizei, Chapada Diamantina, uma road trip fantástica, vi a cachoeira mais bonita da minha vida, chama-se “Buracão”, você tem que ir lá, foi o Spielberg quem fez, tô te dizendo, ele veio ao Brasil, aos rincões da Bahia para isso e se saiu muito, muito bem.

E depois o Chile, e subi um vulcão que depois vim a saber que estava ativo, bem ativo por sinal, dois sinais pra ser mais exata, é assim que um dos três corpos de bombeiros da cidadezinha avisa que o sinal já não é mais verde, de vulcão tranquilão, mas amarelo, de vulcão espreguiçando. E vi a neve pela primeira vez, e brinquei com ela, arrá, vamos lá, essa lista que nada tinha começa a dar ares de especial.

Então:

1) Conheci a cachoeira mais bonita
2) Brinquei na neve

E aí fica faltando só uma, mas de qualquer forma me parece tudo muito estranho, meio hipócrita, que realização foi essa afinal, a neve sempre esteve lá, assim como a cachoeira, a única coisa que fiz foi comprar uma passagem, quiçá dirigir um bom bocado, e nadar, nada mais, mas o que é isso, pra se comprar passagem precisa de dinheiro, a cara do sucesso, você conseguiu dinheiro pra isso, sim, mas não era uma meta, assim, só depois que cheguei lá é que vi que a cachoeira era a mais bonita, e que no vulcão tinha neve, façamos o seguinte então, transformemos os dois pontos em apenas um para que a coisa fique justa.

Ah, sim! Abri uma empresa!

Portanto: 1) Conheci a cachoeira mais bonita AND brinquei na neve; e 2) abri uma empresa. 

Só falta um.

Se bem que sejamos justos, não fosse a encheção de saco do meu namorado eu jamais teria levantado as perninhas pra começar esse CNPJ. Tá, mas você aceitou, e você é taurina, morre de medo dessas coisas, vale um ponto inteiro sim e a lista se mantém, senão jamais terminaremos essa bagaça antes de começarem a pocar os fogos de 2016.

3) Comecei a tomar tarja preta

Ah é, isso não é bom, nem era uma meta também, se bem que tem lá o seu glamour, noooossssa, trabalhei tanto que entrei no tarja preta, mas nós dois sabemos que isso é uma mentira também, nunca adoeci de trabalho, não foi agora, ainda não sei porque foi, o cretino do psiquiatra não me responde, aposto que ele já descobriu e não me conta pra continuar tirando meu dinheiro toda semana, vou falar pra ele ir gastar lá naquela cachoeira da Chapada que pelo menos me sinto sócia de algo que realmente gosto.

Voltando à lista, isso não é bom, se você colocou isso na lista é porque passou o efeito do último que tomou, inventa algo mais bacana.

3) Emagreci

Fato. Emagreci mesmo. Mas foi por causa do tarja preta e não de alguma coisa mais bacana, tipo suor e dedicação. E depois que descobri que não morre se beber álcool tomando tarja preta engordei tudo de novo e meu sonho de sair nas fotos do Ano Novo sem parecer a irmã gêmea do Mocotó no tempo que era DJ foi por água abaixo. Então tá.

3) Descobri que não morre se tomar álcool com tarja preta

Essa é boa. Mas se tem a maior ressaca do mundo, vou te dizer. Não tente fazer isso. Sério.

Beleza, fechamos por aqui, só falta fazer a lista de 2015 agora. E depois do “emagrecer” foram vomitados mais 10 pontinhos de coisas a se realizar, depois lembrei de mais um, esqueci agora, mas tem outro, que pode ser “parar de tomar álcool com tarja preta”, isso, meleca, já tem doze. Os outros não vou contar, ora, isso é coisa que se pergunte? Desejo é que nem dente de leão, se você joga no vento, esvanece, meu filho.

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Pensei no que eu queria alcançar para 2014, será que consegui realizar aquilo que escrevi no Ano Novo velho? Não sei. Não lembro mais e não faço ideia de onde foi parar o papel.


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