Inventei de
ir à exposição do Ron Mueck no MAM. Éééé, o Mueck, aquele das pessoas gigantes.
Então. Não basta ter que enfrentar mais de uma hora na fila para ver uma exposição.
Tem que aguentar as outras pessoas que vão na mesma exposição. Aquele monte de
gente adulto velho criança carrinho de bebê tentando abrir espaço em meio à multidão
de celulares e gente. Fiquei irritada. Odeio montes de gente.
Coloquei a
culpa no FHC. Aaaaahhhh, a porra do real, do frango com iogurte. Chegamos na
fase da arte, gente! A arte ostentação. Vejam só a minha tese e se não tenho uma
pontinha de razão: Depois que a classe média brasileira começou a comer catupiry,
ela acha que pode tudo. Porque pode mesmo! Você pode fazer tudo o que quiser, a
única coisa que vai mudar é o número de parcelas do cartão de crédito.
Esse excesso
de confiança na gente (nós, a classe média, perdão aí se você é “bem de vida”)
fez com que uma mudança drástica acontecesse de uma geração pra outra. Veja
bem: lembro que no tempo dos meus pais nem se COGITAVA coisas como férias no
exterior ou pagar um milhão de pertrodólares para ir a um show. Se o show
custava um milhão de pertrodólares, então não era pra mim. Ou, se eu era MEGA
FÃ dos caras, se eram a banda que eu MAIS GOSTAVA NO MUNDO, aí a família fazia
uma vaquinha pra que eu fosse. Assim era.
Hoje não. A
coisa se inverteu de uma forma que se você NÃO FOR é meio embaraçoso. Como a
gente pode sempre dividir no cartão, não existe mais dizer que “estou meio sem
grana, não vai rolar”. Agora existe um “não gosto muito dessa banda”, e olhe
lá. Você NÃO VAI AO SHOW DO RED HOT? VOCÊ NÃO VAI AO SHOW DA MADONNA? VOCÊ NÃO
VAI À PEÇA DA MARIETA SEVERO?
Você tem que
ir e tem que ter um smartphone também, para postar pelo um menos uma foto de
que foi. Se você não provar ostentar que foi, é porque nem esteve lá. E não
adianta querer tirar onda depois não.
Voltemos ao
Ron Mueck - GENTE. Eu não conseguia chegar perto das obras. A coisa mais
encantadora, que são as expressões, as cenas misteriosas que o cara consegue
criar eram constantemente permeadas de gente entrando e ficando tempo demais DE
COSTAS PARA AS OBRAS e tapando a minha visão. Para quê?
Para fazer
a porra do #artselfieostentação, ué.
Gritei. Ô
caralho, tem essas fotos todas na internet, gente! Não funcionou. É lógico. Tem
todas as fotos do Ron Mueck, das obras do Ron Mueck, da mãe do Ron Mueck, mas
quem é o Ron Mueck senão um ótimo cenógrafo que faz um belo fundo de foto para
a minha cena onde em primeiro plano entra EU, o grande artista afinal de contas,
não é mesmo?
Aí veio
também arte selfie ostentação das madame. Um monte de madame fazendo fila para
tirar foto do lado das grandes letras escritas na parede, “RON MUECK”. WTF????
Você está tirando fotos do lado do nome do ACLAMADÍSSIMO RON MUECK, aquele mesmo
que até aparecer no Jornal Hoje ninguém tinha ideia de que cor era o nariz?
Aff....
Praguejei o
nome das pessoas que deixaram fazer fotos. Detalhe:
não podia tirar com flash. Pobres
coitados dos estudantes de arte que tentavam em vão explicar isso aos lobos
famintos do instagram com seus corby a postos, atentos a qualquer facho de luz
que fizesse a falta de resolução ficar levemente disfarçada.
Escorreu
preconceito aqui, tá bom. Já disse um ator certa vez para mim, “se a Globo faz
a fila de gente triplicar pra ver uma peça (ou, nesse caso, assistir a uma
exposição), que seja”. Os fins, nesse caso específico, justificam os meios. Mas
vou te dizer: onde arranjo a caralha da paciência pra aguentar até esse povo
todo entender que é uma baita falta de educação você achar que pode ficar o
tempo que quiser tentando fazer a melhor pose na frente de uma obra enquanto
1254851346554 pessoas estão atrás loucas pra olhar um pedacinho que seja da
dita cuja? Porque, sinceramente, eu vi todas as peças assim. De pedacinho em
pedacinho. Depois juntava na minha cabeça.
Voltei à
exposição para levar meus pais. Claro, eles têm mais de 60 anos, nem por cima
do meu cadáver eu enfrentaria aquela fila de novo. Papai me perguntou de onde o
Mueck era (sim, a maldição das perguntas insanas permanece para todo o sempre
amém) e eu disse “Acho que é sueco”, que bom que existe a expressão “acho que”,
porque ela te permite colocar qualquer coisa do lado dela, até uma palavra como
“sueco” no lugar de “australiano”.
Então
gente, por pura rebeldia eu não fiz fotos.
Pelo menos
não muitas.
Pelo menos
não comigo na frente.
Serviço:
Vá lá e não
tire tantas fotos! As obras são lindas também!
O MAM fica
no aterro. Salte na Cinelândia e vá em direção ao aterro, atravesse na
passarela que você estará na frente.
O valor é
R$ 14,00 inteira, R$ 7,00 meia para estudantes e idosos.
Dá pra
comprar pela internet com antecedência e a fila é MUITO menor.
Entra aqui
e compra http://www.mamrio.com.br/
Se não der,
compre um velho na fila. Senão você vai ficar mais de uma hora esperando.
Aproveita pra
ver outras coisas! Na exposição “A inusitada coleção de Sylvio Perlstein” tem
obras de Magritte, Dalí e Duchamp no mesmo prédio. E este é um segredo que apenas
dez porcento de quem vai lá ostentar com o Mueck descobre, então aproveita a diquinha!
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