quinta-feira, 22 de maio de 2014

Das vidas que surgem e das que se vão

Terceira parte do plano que me surpreendeu: o foda-se. Há alguns anos uma grande amiga havia acabado de trocar de casca pela milésima vez, ia se mudar e começar uma nova vida. Nos encontramos na cidade onde nos conhecemos e onde, por sinal, fomos vizinhas, e depois ainda moramos um breve período juntas. Ela me disse, meio acabrunhada, que se sentia meio melancólica ao visitar os amigos, visto que a atenção já não era mais a mesma, nas palavras dela “as pessoas têm que seguir adiante com suas vidas. No princípio, quando deixamos nossa cidade, todos fazem festa quando visitamos, fazem questão de encontrar. E aí as pessoas se acostumam com a nossa ausência”, disse ela. Pensei, inocentemente, que talvez estivesse exagerando, que talvez os amigos de verdade verdadeira permaneciam com as pompas e todas as horas de encontros a que temos direito quando nos tornamos “carne fresca no pedaço”.

A última vez que fui à minha ex-cidade me provou que ela estava certa. Claro que os amigos de verdade verdadeira fazem de tudo para estarem com você. Mas já há uma certa calmaria no ar, sabendo que o mundo não vai acabar e que a Gol ainda vai colocar passagens em promoção sempre. Isso para os amigos realmente próximos, os “amigos de whatsapp”. Quanto aos outros amigos, os que são um pouquinho mais distantes, a coisa fica estranha mesmo. Como os interesses mudam e a vida segue em cidades diferentes, os papos também já lutam pra se encontrar em alguma intersecção. É mais um blablablá de como está a vida e como tem passado, seguido de algumas risadas patrocinadas de um outro tempo, e fim. Ali acaba, não precisa de mais de quinze minutos, partamos para a próxima.

Essa sensação estranha que de novo me perturbou, de não pertencimento, ou talvez agora de distanciamento realmente me mexeu em algum ponto aqui dentro. Será, será que é preciso mesmo alguns anos pra cair a ficha? Ou será que essa minha raiva que surge por mais que eu tente oprimir está no fato não de não conseguir acompanhar mais as vidas que seguem, mas as que surgem, mais especificamente a da minha sobrinha, cuja ausência me oprime quase diariamente, lembrando-me do fracasso que é não conseguir vê-la crescer em todos os segundos de sua primeira vida...

Fiquei introspectiva (coisa por demais bizarra para a minha personalidade). Uma vontade de ir à antiga cidade e não falar com ninguém. Já não tenho mais ânimo para as maratonas de encontrar pessoas 24 horas por dia, e a cidade em si sempre fica de lado, e eu dividida, no meio, sem saber pra onde ir, querendo tudo e todo mundo.  Quem sabe um dia consigo ir e apenas avisar blaseé e me deixar tropeçar em quem cruza meu caminho. Não são substituíveis, essas pessoas todas, daí talvez a tristeza incontrolável; mas parece que o ciclo já se fez, e paciência, por mais que doa é normal.

A melhor forma de explicar a sensação é imaginar que eu estou no meio de "De Volta pro Futuro" e de repente eu desisto de correr atrás das pessoas que começam a desaparecer da foto. Não tenho mais energia. Deixa sumir. Não que tenha quem colocar no lugar, aliás, acho cada vez mais difícil, para não dizer beirando o impossível, fazer amizades fortes depois dos 30 como se fazia aos 20, mas isso é papo pra outro post. Mas para ajudar nessa transição tenho que assumir que ultimamente tenho gostado bastante da minha companhia, minha cabeça já é bem confusa pra preencher algumas horas e, se chego sozinha em algum lugar, posso ficar lá confortavelmente observando com minha cerveja na mão. 

Então daonde veio essa melancolia com ar de dramalhão todo que não desse ovário feladaputa de novo, me deixa reagir como uma adolescente retardada que não sabe ainda distinguir depressão de hormônio? O ápice foi um dia em que estava na academia e de repente essa música pipoca no ipod, não passei, deixei essa angustiazinha tomar conta da cabeça, faz bem pras pernas isso, dá vontade de correr. Deixei e deixei e deixei tocar, repetindo a canção com uma sensação estranha de que a letra parecia um bonito recado, mas para quem? 

Tive que ouvir depois, acompanhada com uma versão dessas cachorras do You Tube que vêm com a letra e aí sim, ficou claro, garota burra, obviamente é um recado para você mesma.








Já conhece o nosso programa? Vai lá! www.youtube.com/rioaos30

Ainda não visitou nossa página no face? Quê isso! Curte lá! www.facebook.com/rioaos30

Nenhum comentário:

Postar um comentário