Estou chegando a uma conclusão
muito triste. Sempre estranhei o fato de tantos profissionais gastarem tanto
tempo de suas vidas com o self promotion
– essa é um expressão engraçada para designar isso mesmo que você deve estar
imaginando, a auto promoção. Pensei que fosse algo pertinente à minha
profissão, tão cheia de egos inflados e machucados, haja vista a exposição que sofremos
cotidianamente, não é todo profissional que tem o seu trabalho sendo avaliado
por um zilhão de pessoas todos os dias. Mas enfim, o meu desabafo de hoje é que
não aguento mais as redes sociais entupidas de gente alardeando o próprio
sucesso. Posso ser taxada de invejosa, amarga, whathever, mas definitivamente não é disso que se trata. É um
sentimento ainda pior, é entender que as pessoas não conseguem – e às vezes não
podem - mais ficar caladas.
Sempre lembro de uma lição básica
que permeava a minha casa desde que me entendo por gente. Meus pais passaram
muitos e muitos anos tentando mostrar pra mim e meus irmãos como a humildade
pode ser gratificante. Claro, lá pelas tantas, meu pai já machucadíssimo de
tanto trabalhar e levar as bordoadas que o “sistema hierárquico” (para não
falar das pessoas) é capaz de lhe aplicar uma vida inteira, já me dizia, com
toda a ironia do mundo, porque eu sei que ele de fato não acreditava nisso,
enfim, dizia ele, “minha filha, de vez em quando a gente tem que fazer um self promotion. Esquece tudo o que eu te
falei até hoje. No mundo é mais importante falar bem alto que fez do que de
fato fazer”. Bela tentativa, mas óbvio que não deu certo, e continuo achando muito
mais bonita uma pessoa poderosa e sexy do que carente e vulgar, e as duas podem
estar se apresentando com a mesma roupa...
Há algumas semanas fui convidada
por uma amiga a acompanhar um ciclo de palestras cabeçudíssimo. O tema é “o
silêncio e a prosa do mundo”. Um monte de sociólogos, filósofos e afins estão
perdendo seus tempos falando sobre o silêncio o que, em si, já é bastante
paradoxal. E um monte de gente com tempo sobrando está destinando algumas horas
semanais para ouvi-los, o que é o meu caso. Mas as palestras têm me feito
pensar bastante sobre o nosso direito divino de permanecermos calados, que não
está mais sendo protegido nos nossos dias. O silêncio, hoje, geralmente é mais
carregado de significados que a própria palavra. Quer um exemplo prático? O
meu. Eu era uma pessoa pública na minha terra natal. É normal que algumas
pessoas me perguntem o que estou fazendo, já que “sumi da TV”. Tenho duas
opções: alardear a todo instante o meu “sucesso” nas redes sociais, ou ficar em
silêncio, e esta opção provavelmente significará, para muita gente, o meu
fracasso.
Isso também acontece atualmente
na esfera intelectual. Conversando com um amigo meu, professor, ele ratificou
que não tem mais o direito de não ter opinião sobre tudo. As pessoas cobram que
ele se posicione acerca de absolutamente tudo o que acontece. “Às vezes é mais
fácil manter-se no âmbito das fotos de praia e receitas caseiras”, ele
desabafou. “Assim que você se posiciona de determinada forma sobre algum
acontecimento, todos esperam que você haja de forma parecida em outros”. Lindamente
ele me falou sobre os papeis que resolvemos – ou temos que - desempenhar nas
redes, e caí em mim, vivemos, senhores, no tempo da ultra-etiqueta.
Instagram, facebook, fotos de como
sou linda, fotos de como minha vida é foda... Claro que se temos amigos, família,
ainda mais morando longe, é interessante postarmos um pouquinho da nossa vida
para eles acompanharem, e que sejam as partes boas, não acho que seria de bom
tom a foto de uma bunda com a legenda “minha vida é cuzona”. E se temos um
público, também considero importante alimentar um pouco da sua curiosidade,
devolvendo o voto de confiança e a admiração pelo nosso trabalho. Mas tudo tem
limite, gente. E ter que gritar aos quatro cantos o quanto se é especial não é
mais alardear o sucesso, mas tentar angariá-lo nem que seja pelo grito.
Ainda lembro quando havia recém chegado aqui no
Rio, um amigo de Vitória me disse uma frase que não me esqueci, “faça mais,
fale menos”. Achei uma boa forma de reajustar os pensamentos na minha cabeça, já
que me dei o direito de recomeçar. Não me entendam mal, sou meio viciadinha em
instagram e facebook, acontece com todo mundo, e se estou reclamando do
conteúdo que está lá é porque eu consumo. Mas estou achando cada vez mais
cafona a forma como é utilizado tudo isso. Vai lá, pode me chamar de velha, mas
o fato é que às vezes minha vida é tão cuzona que não tenho energia pra tentar
provar o contrário em fotos. E às vezes ela está tão extraordinariamente
maravilhosa que eu não lembro de compartilhar.
Conheça a autora
Faço minhas suas palavras!Simplesmente Perfeito, sou sua fãa!
ResponderExcluirQue demais! Obrigada mesmo pelo elogio! bjs
Excluir