sexta-feira, 2 de agosto de 2013

As maravilhas e agruras de se viver numa cidade turística



Sabe quando você sai de férias e cada dia parece que é o último da sua vida? Você não tem mais pernas de tanto andar, mas acha que vai perder tempo se deitar para descansar? É assim que eu fico numa cidade desconhecida. Bom, inclusive ela pode ser conhecida, que é muito sofrimento perder momentos desses dias tão preciosos com coisas como dormir. Turista que é turista mesmo não dorme, come mal, bebe o dia inteiro, anda a pé mesmo, olha para todos os lados. E tem um sentimento maravilhoso de que o mundo vai acabar amanhã.

Morar numa cidade turística é, em certo grau, conviver um pouco com isso. Porque as pessoas estão lá, nas ruas, a todo momento, e é impossível não sentir essa energia no ar... Gente que veio ver araras cruzando os céus, macacos nas árvores, mulatas seminuas nos semáforos... Os turistas podem não encontrar tudo isso, mas o sentimento de gratidão que têm por estarem de férias é fascinante e contagiante!

Uma das coisas que eu mais gosto de morar numa cidade como essas é não ter muito horário para as coisas. Almoço? Isso pode acontecer entre 11 da manhã e oito da noite. De verdade. Muitos restaurantes nem fecham, ficam até o início da madrugada abertos, e você pode escolher se quer japa, thai, português, árabe. Tem brasileiro também, mas é mais caro.

Quando vou à praia, que maravilha! Tudo já está lá, bunda pro sol esperando eu chegar: as cadeiras, as sombrinhas, a cerveja gelada dentro de um isoporzinho com pedrinhas de gelo. Tudo tem um preço, mas bem pago se pensar o que seria carregar isso no metrô. Porque não dá pra ir de carro, meu bem, esqueceu disso? Não existe vaga. E taxista tem preconceito com roupa de banho, mesmo as secas.

Banheiro tem na praia também. E canga, esfirra, mate leão e biscoito Globo. E se você quiser se prestar a esse papel, pode até bater palma pro pôr-do-sol no Arpoador e não sair de maluco. E depois pode ir para uma festa, do jeito que você quiser, porque em cidade turística tem festa todo santo dia da semana!

Ah! E os amigos, que sempre vão te visitar? Morar em cidade turística é assim! Casa cheia nos feriados, aquela alegria, se você gosta de receber, assim como eu, vai se sentir sempre muito bem acompanhado, que não faltam visitas, principalmente no verão, e o clima é mágico, cervejinha no happy hour, galera que vem querendo ver as coisas maravilhosas que a cidade oferece e você no centro disso tudo, de guia, compartilhando com todo mundo o que já descobriu.

Essa falta de rotina é linda. Cada dia é um dia muito especial, e sabe por quê? Porque você está no Rio, meu bem. Essa terra maravilhosa onde todo mundo quer estar e que tem gente de todo o mundo, você ouve língua estrangeira em todos os cantos, pode usufruir também de outras culturas em um bate-papo diferente a cada dia se quiser. Além da paisagem fantástica de cartão-postal que parece coisa de cinema.

Agora, como nem tudo são flores, também existem as tristezas de se viver numa cidade turística. Para começar aquele monte de gente que acredita piamente que chegando no Rio vai ver araras cruzando os céus, macacos nas árvores, mulatas seminuas nos semáforos. Porra! Pelamor! Vai ver desenho animado de arara e pensa que é assim? É uma gente chata, que não compreende porque você está puto. É porque alguém tem que trabalhar nessa joça dessa cidade para criar riqueza, né não? A vida não é um mar ladeado de Favela Vidigal não, filhinho. Você fica aí, empesteando os colchões dos hostels de percevejo e quer trepar com a mulata do samba sem usar desodorante porque sua sobrancelha é tão branca que parece uma lontra albina? Tudo bem que brasileiro é bom anfitrião, mas tudo tem limite, e amanhã eu acordo cedo.

E ainda bem que os restaurantes ficam abertos até mais tarde, porque quem não tem horário fixo pode acabar ficando sem almoço. Principalmente se for no Centro, porque lá, ah, lá os restaurantes fecham mais cedo, lá ninguém se diverte, o Centro é profissional. Mas tem os lugares abertos para sempre, Bar da Urca, Copacabana, Ipanema, e você pode almoçar qualquer hora que quiser, e também pode pagar oito reais num pastel, alguém tem que pagar os turnos dos funcionários, que seja você, que resolveu almoçar tarde, Deus ajuda quem cedo madruga, o corpo precisa de alguma rotina, faz mal pra saúde ficar sem comer por tanto tempo.

Mas o fim de semana chega, e ainda bem, que você também quer fazer parte em algum momento da vida dessa boemia estampada nas caras desses caras de pau que querem farrear de segunda a segunda, um dia seu fígado acaba meu filho, vai esperando, mas você está no Rio, tem que beber Antarctica e cachaça até vomitar, tá certo. E aí você resolve pegar uma praiana, é extorquido pelo ser humano das barracas, porran, essa cadeira custava três reais semana passada, agora é cinco por quê?, a micose que mora nela tá começando a cobrar pelo aluguel também? Relaxa, você está numa das praias mais bonitas do mundo, no meio de um centro urbano maravilhoso, estique as pernas, feche os olhos e... SALGADOXARABEEEEEEEEEEEE vai ser um grito que te acorda, quer dormir pra quê, ficasse em casa, BIXCOITOXGLOBO, MATEEEEEEEEEEEEEEEEÊÊÊÊ, já disse, leva seu lanchinho pra praia se não quiser se empanturrar de farelo de polvilho, acho que esse povo trabalha mancomunado, passa a farofa primeiro, depois o mate pra desobstruir sua garganta nesse calor infernal. Por fim, você pode ir bater palma pro pôr-do-sol no Arpoador, se quiser. Seu retardado.

Ah! E os amigos, que sempre vão te visitar? PUTAQUEOSPARIU!!!! Isso não acaba gente! Não existe mais feriado em paz. Sempre tem um féladaputa enchendo a sua casa de areia e perguntando qual é a melhor forma de chegar em Copacabana. Porra! Olha o Google Maps! Quando é amigo, vá lá, que você manda se fuder quando te cansa, mas e quando é conhecido? Pode ter certeza, você vai ganhar muuuuuuitos amigos quando se mudar para uma cidade turística.

Isso se não for Natal, Reveillon, Jornada Mundial da Juventude, que aí o metrô para, ninguém chega em Copacabana, ninguém chega na Zona Sul, ninguém se desloca embaixo da terra, em cima muito menos, e você que tem que trabalhar, você que tem, problema seu, vai fazer concurso para trabalhar em Roraima se não gosta de morar em cidade turística, e olha que lá é do lado da floresta, deve estar cheio de gringo também, essa gente enjoada que não faz a menor questão de aprender a nossa língua, sem preconceito por favor que sou contra xenofobia, coisa triste isso, mas essa gente, estou te dizendo, essa gente vive como se o mundo fosse acabar amanhã, o melhor é compartilhar a paisagem de cinema com todo mundo, mas pode ser do seu sofá, que a casa fica limpinha e também pega a Globo.

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