quarta-feira, 15 de maio de 2013

Sobre a agonia



Nesse ano que passou, algumas perguntas permearam mais ou menos 90% das minhas conversas sobre a mudança; foram elas, com alguma licença poética: 1) Por quê? 2) Como foi a mudança? 3) Já está trabalhando?  4) Qual foi a maior dificuldade que você já passou no Rio? Decidi que vou responder como um site de banco, a primeira grande resposta aqui, talvez aqui, outras em outros posts, tem coisa que dá mais trabalho, mas para quem está só numa curiosidade superficial, eu respondo no lead: 1) leia o texto abaixo; 2) um inferno; 3) sempre estou trabalhando, mas talvez de um jeito diferente;  4) ser impossibilitada de fazer o que quero por fatores que, apesar de externos, continuam a me causar culpa.

1) Por quê?

Tinha alguma coisa errada. Eu morava numa casinha azul, num bairro bucólico, tinha uma árvore no meu quintal. Já tinha um tempo que queria namorar, ficar tranquila, e um cara legal apareceu para mim. Sou amasiada, por assim dizer, porque adoro esse termo, é quase uma sentença de morte, né, palavra horrível. Bom, dava para ouvir os macacos da floresta que ladeava o vale onde eu morava, e a temperatura era ligeiramente mais baixa do que no resto do mundo também por causa da floresta. Na garagem, um carro popular vermelho bonitinho, no banco, não muita grana. Eu não ganhava muito, e trabalhava horrores, mas para que se formam os jornalistas? Gostava demais do que estava fazendo e estava bom por aí. Até porque a casa azul era o centro das reuniões dos amigos, e não precisava muito mais do que umas caixas de cerveja para fazer uma festa.

Eu era reconhecida no meu trabalho – não na minha empresa, como já disse, o salário não era lá essas coisas – mas o público parecia gostar do que eu fazia. Há seis anos eu trabalhava com TV, num programa de entretenimento e eu me esmerava para fazer uma matéria totalmente diferente da outra, degustava os temas,  e apreciava o fato de não ter rotina nenhuma (já acordei às três e meia da manhã, passei um reboco na cara que não adiantou nada e saí para gravar). A vida estava indo bem, e eu via o entardecer por entre as folhas do meu quintal.

Quando tudo está assim tão bonitinho, me dá agonia. Que nem aquelas pessoas que estão sempre sorrindo, fico na esperança de estar por perto quando tudo desmoronar. Não é exatamente vontade de ver a derrota alheia, é saber que a vida é feita de ciclos, e quando as coisas vão muito bem, se prepara. Mas mais do que isso, eu sentia na época que já tinha descoberto tudo por ali, naquele meu pequeno mundo. Minha órbita já era grande demais para os que estavam à minha volta, e os meus professores já não tinham mais nada para me ensinar. Havia um vazio de desafios e eu ansiava por novos mestres.

Foi por isso que decidi “jogar tudo pro alto” (odeio essa expressão, mas ela foi tão repetida ao longo desse ano que acabei me acostumando) e mudar, dessa vez fisicamente. Pedi as contas na empresa onde trabalhava. Meu namorado arranjou um emprego no Rio. Vendi meu carro e fiquei por conta de agilizar a mudança. Num Rio pré-copa. Mal sabia o que ia me esperar...

Acho que essa agonia vem também com os trinta anos, para saber mais sobre a crise leia o primeiro post. Mas mudar fisicamente, posso garantir, faz algumas dinâmicas da vida se modificarem também. Como o tempo, por exemplo, que era uma coisa que eu nem imaginava, o tempo, senhores, não é o mesmo em todas as cidades. A idade também não. Nem o clima, digo, tem a temperatura, mas isso não define a forma como a gente se sente no inverno ou no verão.  O que eu sei é que uma jornada nova, por mais difílcil que seja, é nova, e isso faz valer a pena quando a gente está sofrendo dessa doença, a agonia. E uma das coisas mais bonitas que já ouvi na minha vida, que me afaga em diversos momentos diferentes, foi uma frase da minha irmã, que numa outra situação, numa outra vida, ela disse, minha irmã, se fosse fácil você nem começava.

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