sexta-feira, 26 de julho de 2013

A terrível experiência de se fazer compras no Rio


 
Se você não for católico fervoroso e não estiver a fim de fazer a peregrinação por aqui junto com a galera da Jornada Mundial da Juventude, pode ir ao supermercado. O programa é parecido, pelo menos no que diz respeito ao tempo e à dedicação.

Para começar, não dá nem pra chamar de supermercado essas mercearias que os cariocas têm.  Com corredores apertados, mal dá pra passar um carrinho, se vier alguém na sua contramão já era. Daí você tira o teeeeempo que leva pra pegar tudo e chegar ao caixa. Se bem que não vai demorar muito – o preço dos artigos de higiene pessoal são tão caros que não dá pra comprar no supermercado. Também não tem muita variedade: marcas de shampoo, condicionador, desodorante, sabonete, pasta dental, tudo isso, o conselho é comprar na farmácia, muito mais barato. E não adianta fidelizar: eles fazem questão de trocar as marcas das coisas a cada semana! Triste vida, quando algum amigo vem me visitar e resolve propor de cozinharmos um prato determinado, eu tenho que explicar que por aqui não se escolhe o cardápio antes de ir ao supermercado, vamos ver o que tem por lá e daí a gente pensa, tipo coisas da época, na roça, só que não.

Existe um problema parecido com a sessão de higiene pessoal que é a sessão de hortifruti, e o problema é que não tem. Não tem nada de  folha. Nada de ervas frescas. Os legumes, como Capitu teria se uma cenoura fosse, têm casca de ressaca. Certa vez procurei durante um tempão por batatas inglesas e, não conseguindo achar o produto de jeito nenhum, me dirigi a um repositor, que logo me afirmou que estava em falta. Perguntei a ele se já estávamos vivendo a terceira guerra mundial e ele não entendeu. Fora o preço: já paguei cinco reais num maço de rúcula, gente!

A jornada continua quando você crê que está levando pra casa um produto em oferta. Mas ofertas, no Rio, são necessariamente enganosas – ou o produto não está disponível, ou a informação veiculada está errada, ou a foto está errada, ou você nem vai perceber, porque confiou que o preço era aquele da etiqueta e na hora de verificar a nota fiscal viu que pagou bem mais. Aliás, prática comum é não bater o preço da etiqueta com o do caixa. (Vou tentar refazer mais uma vez essa frase, corretamente agora), QUANDO TEM UMA ETIQUETA identificando um preço tá ótimo, normalmente não varia muito no caixa, aquela etiqueta, vocês sabem, talvez o povo carioca tenha ficado tão acostumado com os tempos de inflação ao dia dos anos 90 que não se importa pelo fato de o preço variar do momento que você pegou o artigo até pagar, o engraçado é que às vezes eles erram para baixo, e não adianta tentar ser honesto e tentar pagar o valor cheio, desculpa mamãe, essa manobra pode levar uns dez minutos só para alguém aparecer e verificar a etiqueta, ficam então elas por elas, o que se paga a mais devolve-se no que fica por menos, que no Rio não tem preço, tem estimativa.

Aí você está no caixa, se for no Pão de Açúcar vai ouvir “cliente Maixxxxx?” e tem que responder rápido, como se o resto do serviço todo acompanhasse a urgência da mocinha de maquiagem de olhos bicolor, elas estão sempre num dia péssimo. Se for no Mundial ela vai te perguntar  “é no dééééébito?” e se acaso você disser, “crédito”, ela vai encher a boca pra retrucar “aqui só aceita débito”. E se você for no Apolo, não adianta gritar que levou sua sacola retornável que elas vão colocar saco plástico até na sua cabeça para ver por quanto tempo você consegue ficar na apneia. E se for no Zona Sul eles vão fingir que o serviço é bom. E se for no Prezunic, Princesa, Rede Mais, Redeconomia, Extra, não adianta, não falta rede de supermercado aqui e nada vai te impedir de seguir sua peregrinação pelo hortifruti e pela farmácia depois disso tudo.

Para completar, existe por aqui o que eu denominei de “fenômeno cem reais”. Vai fazer um macarrão à bolonhesa no fim de semana? Então macarrão + molho de tomate + carne moída + manjericão = R$100,00. Esqueceu o manejricão? Volta no supermercado e compra = R$100,00. É sério. Não se esqueçam de nada. Façam listas. Repassem. 

***

Prefiro fazer compras num Perim em chamas que num supermercado do Rio de Janeiro.

2 comentários:

  1. Muito divertido e atual o artigo, parabéns! Já vivi no Rio e tenho parentes aí, certamente você retratou bem o dia a dia carioca da atualidade!

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