quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A alcateia

 
 
Fé é subir um primeiro degrau sem conseguir ver o resto da escada.

Rá! Eu estava louca de vontade de começar um texto com uma frase autoajuda, gente, não me contive. Mas vamos lá.

Desde que comecei esse blog, disse que vim pro Rio para ampliar meus horizontes. Obviamente isso tinha mais a ver com a esfera profissional do que tudo. Só não tinha abordado ainda o tema trabalho porque invariavelmente preciso ruminar as coisas antes mandá-las ao vento. Dito isso, recomendo que vocês leiam o post “O glamour da produção” antes desse, porque gosto de coisas cronológicas e porque vai ajudar o entendimento. Ou não, foda-se também, quem sou eu pra dizer que post você tem que ler antes.

Bem, estava eu já instalada aqui no Rio, e com algum dinheiro em caixa que fiz de freelas. Podia me dar ao luxo de pensar no que queria trabalhar aqui, sem ter que atirar meu currículo pelos quatro cantos de tudo quanto é loja de sapato (até porque, socorro, eu não venderia algum). Sempre gostei de TV fechada, e a bolsa da Dilma veio a calhar (pra quem não sabe, a presidente colocou uma cota que estabelece uma quantia mínima de tempo de produção nacional nas TVs fechadas. Ééééé, é por isso mesmo que você tá vendo um monte de porcaria na sua tevezinha fechada preferida agora!!!!! Descobriu!!!! Mas tem um monte de coisa boa também, e como eu faço parte do grupo beneficiado tenho que agradecer à Dilma. Obrigada, Dilma).

Daí que comecei a conversar com as pessoas, beber cerveja, e se quer uma dica, aqui no Rio é assim que se faz negócio. Não enviei um currículo sequer a quem não pediu expressamente para um trabalho no qual julgou que eu me encaixaria. Essa estratégia acabou me levando a trabalhar com um amigo, virou amigo agora, pra ser mais precisa, um cara que já trabalhou comigo em Vitória, em outra função, mas na mesma rede. Ele, com um sócio, estavam estruturando uma produtora e me “adotaram”. Foi isso. Não sei até que ponto isso tinha a ver com a real necessidade de uma jornalista lá dentro, ou se foi o espírito que bateu, mas o fato é que já havia uma equipe formada e eles me colocaram pra dentro. Sabe o que isso significa?

Entrar em uma equipe de TV é mais ou menos tentar fazer parte de uma alcateia já formada. Logo que você tentar entrar, todo mundo vem cheirar o seu rabo, só pra poder dizer que fede. Todo mundo vai brigar com você, ou pelo menos discutir, só pra medir o seu limite, o tamanho da sua força, os seus dentes.  Todo mundo quer saber se você pode feder a ponto de virar um macho alfa. Aliás, esse mundo é tipicamente masculino, é bom reduzir a feminilidade ao bastão do batom ou você pode se dar mal...

Mas depois que a alcateia está formada ela vira uma fortaleza. Trabalhar na rua, com todos os obstáculos diários, é impossível se não for assim. Então, regra número 1: nunca, jamais, em tempo algum contradiga o que um companheiro de trabalho disse para uma terceira pessoa. Depois você vai lá tentar entender com ele porque ele disse aquilo, mas roupa suja se lava em casa!

Regra número 2: tente ao máximo não extrapolar a sua função. Isso não é proatividade, aliás, é sim, e proatividade é uma merda. Fique na sua, que todo mundo ali sabe o que tem que fazer e cada um faz a sua função melhor do que você faria.

Regra número 3: reafirme os laços. Beba com seus colegas de trabalho. Retire os piolhos deles.

Não sei pra quê estou falando isso, mas enfim, essas são regras de ouro para mim, porque eu já me f*** muito quando não as segui e porque estou me sentindo muito bem sucedida, já que acabei de ser aceita em mais um grupo, e esse grupo é realmente especial. Claro, todo trabalho tem seus poréns, mas o fato é que caí numa alcateia de lobos anômalos. O produtor não é frustrado, pelo contrário, acabou de chegar aos 30 e me parece bem satisfeito na sua função. O câmera não reclama. ELE NÃO RECLAMA! (Isso pra mim já não é anomalia, é um milagre, só não é mais miraculoso porque ele não fala nada, então não reclamar é só uma extensão da sua personalidade). O editor não reclama que falta imagem, nem que sobra. Aliás, o editor é macho alfa da gang, o que é a maior anomalia que já vi. O outro alfa é o cara que cuida das contas e das pessoas, um pseudo-z... ah, deixa pra lá. 

Esse povo tinha uma ideia na cabeça e uma produtora nas mãos. E calhou de me convidarem para um projeto independente (projeto independente é o que você gosta de fazer, mas não recebe por isso) em formato de TV para internet. Claro, torci o bico pra dentro, sorri por fora, mas fui me acostumando à ideia. Eu gostava de TV fechada por falar com um público específico, isso traz muita liberdade. Agora... TV pra internet é muito foda, gente! Não impõe nada para as pessoas, é de graça, se você gosta do produto se sente bem em compartilhar, se você não gosta, simplesmente não assiste. Tão inteligente! Me apaixonei pelo conceito todo, e por isso também voltei a escrever.

E meio ainda sozinha, numa água de março a gente começou a gravar, e como pau e pedra correm juntos quando estão no mesmo rio, tudo acabou virando uma coisa só. Fazia todo sentido. Tudo é Rio. Tudo é 30. E nessa idade, eu já não aguento muito mais falar sem ser abordada pelas minhas próprias palavras DEPOIS, que saem sem permissão alguma, então tinha mesmo que ser livre. Demorou, porque projeto independente demora mesmo, porque você tem que colocar as coisas que pagam as contas antes e porque você não tem o menor motivo de fazer aquilo, então que seja bom de fazer. E o resultado é que agora o blog ganha um braço, que é um canal de TV no Youtube.

Nesse canal traremos registros de programas para se fazer no Rio que fogem da mesmice. Tudo com os olhos de alguns balzaquianos que gostam de comida bem feita, cerveja importada, lugares e pessoas interessantes. Ah, e todos são fãs incondicionais de Anthony Bourdain.

Espero sinceramente que gostem, porque vocês trilharam esse caminho comigo até aqui. Se não gostarem, gritem, que talvez eu escute no ouvido bom. E se fé é subir o primeiro degrau sem conseguir ver o resto da escada, tá tudo bem, né? Pode ser só problema de vista. Mas que dê pra gente ver o início, pelo menos.

***

Servicinho básico:

Agora o blog Rio aos 30 tem três produtos: o blog, o canal na internet (youtube.com/rioaos30) e a página no Facebook (facebook.com/rioaos30).

O blog continuará trazendo textos sobre esse universo de mudança, de Rio, de 30 anos. Independente do programa. Mas também vai trazer um texto referente ao lugar que conhecemos, para quem quiser o registro escrito. Já a página no Facebook será alimentada com informações diversas, serviço dos passeios, a trilha musical dos programas, fotos, etc. E o canal, obviamente, será a casa dos registros audiovisuais.

A equipe também pediu que eu fizesse uma apresentação à la Bell Marques, missão que eu cumpri com mestria, então aqui http://www.youtube.com/watch?v=dMpc445l6Ts
já tem um teaser demoníaco para vocês verem o que acontece quando a gente escreve o que pensa. As pessoas se vingam da gente. E nesse caso, foi o editor, que é Deus na televisão, ele faz o que quer e cria verdades (espero que essa frase melhore a nossa relação daqui pra frente).

No mais, continuamos nos falando pelo Facebook, e ah, sim, estreamos semana que vem!

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