sábado, 7 de dezembro de 2013

Mercado de peixe – Sobre as gravações do Rio aos 30 #04



Sabe, eu e meu namorado não gostamos de Niterói. Primeiro vou contar essa historinha para vocês entenderem o preconceito com o qual já fui para a pauta, apesar de ter a cabeça aberta, amar frutos do mar e achar meu namorado às vezes muito exagerado. Vamos lá.

Mudamos para o Rio, meu namorado havia sido chamado para trabalhar no Centro, eu encontrei um apê legal na Tijuca, a vinte minutos de ônibus do serviço dele. Tudo perfeito, até que a empresa resolveu que ele deveria ser transferido para a nova filial que abria em Niterói. Porran... O que eram vinte minutos viraram três a quatro horas diárias de locomoção que envolvia quatro ônibus e duas barcas, ida e volta. Rapidinho ele ficou estressadão e começou a achar Niterói uma merda. Aí você, como todo mundo em volta de mim, pergunta: então porque você não muda pra Niterói, se o valor do aluguel é bem mais barato lá? Porque eu não saí de Vitória para morar em Vila Velha, oras.

Sem preconceito. Sei que a questão aqui é Canon-Nikon, seu cu vai te dizer qual você gosta mais. Conheço várias pessoas que moram em Vila Velha e sei porque eles não trocam a cidade por nada: belas praias, bons bares, tem tudo em volta e um jeitinho mais bacana de lidar com as pessoas, os vizinhos, uma coisa de cidade que não é capital. Mas eu sei também porque os “Vitorianos” vestem a camisa. Porque para a gente, sinto muito, os canelas-verde sofrerão sempre de um “quase”.  E tá explicado.


Foi com essa doçura na alma que entrei na barca para chegar à quase cidade de Niterói para descobrir o tal famoso mercado de peixe, realmente muito bem falado e conhecido no Rio. A chegada tem uma vista bacana das coisas que Niemeyer desenhou por lá. Mas logo a gente chega numa cidade que me pareceu árida, sem árvores, sem vontade de cantar uma bela canção. Estava um calor senegalês e isso ficou impresso na minha memória (não que o Rio tenha tantas árvores assim, aliás precisaria de uma floresta amazônica para diminuir alguns graus no clima do capeta que essa cidade tem, mas voltemos a falar mal de Niterói que é esse o papo, eu sempre devaneio meu Deus).

Niterói. De cara a gente encontra a também famosa estátua do índio Araribóia, diz a lenda que ele passa a eternidade olhando invejosamente para a outra margem e pensando porque diabos logo com ele rolou o azar de ficar do outro lado da poça. Bom, mas o índio é fodão e inclusive denomina o gentílico da cidade, sabia?, sabia? Pois é, quem nasce em Niterói não é niteroiense não, rapaz, é araribóia, que aliás, além da oportunidade de ter nascido carioca e tirar onda com o resto do Brasil deve também ter perdido o acento.

Fomos caminhando até o mercado de peixe que é mesmo igual a qualquer outro do mundo: cheio de azulejo e fedorento. Até que pouco fedorento, haja vista o calor e a matéria-prima do lugar, o que determina de cara o frescor dos peixes comercializados por lá.

O mercado tem diversas bancas com lindos linguados, corvinas, cavaquinhas, vermelhos, polvos, lulas, caranguejos de “Marataíze”, ostras vivas gigantes pulsando dentro das suas aconchegantes conchinhas e lá no fundão um altarzinho para São Pedro abençoar a galera do mar. Isso é no primeiro andar. No segundo tem um monte de restaurantes, alguns maiores, outros com cara de botecos improvisados, o que, pelo menos no Rio, pode ser um indício de comida simples e boa. Isso sem esquecer a escada que liga os dois andares, porcamente decorada com um aquário moribundo com peixes geneticamente modificados pelo lodo acumulado na caixa de vidro por anos, não, por eras, aqueles peixes conversaram com São Pedro pelo que consegui ver através da verde cortina de musgo.


Escolhemos um restaurante maiorzinho, que dava para a bela vista (not) de fora. Ele tinha uma parede de vidro que ajudava a iluminação para a gravação, só por isso sentamos ali. A experiência não foi das melhores, para falar a verdade. Eu não sabia que tinha que avisar ao cozinheiro que não adianta ter um belo peixe fresco se você emborca o bicho na mesma gordura paleolítica do pastel de linguiça de porco. Quanta tradição!


Aliás, tem uma coisa bem bacana no mercado: você pode comprar o seu peixe lá mesmo e, por uma taxa, eles preparam para você. Acaba saindo o mesmo preço, mas pelo menos você viu a cara dele antes. O que não significa muita coisa se, repetindo, você é um imbecil que escolhe o restaurante pela luz e não pelo chef. E eu também não acho que os donos de restaurantes realmente preferirão comprar o peixe fora do mercado, então você pode estar trocando sovaco por axila, mas quem sabe ele não reservou aquele que não vendeu na semana passada para você, não é? Hum.



Serviço:
As ostras custam R$ 3,00 a unidade.
O Mac Donald’s é no caminho de volta para a barca.

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