O primeiro é pra ser
gongado
Ter ideias até que é fácil. Difícil é estruturar, botar em
prática. Começar, então, é sempre um desafio, seja lá onde você quer se meter.
Com o Rio aos 30 não foi diferente, e o tema do primeiro programa não surgiu de
uma hora para outra. Na verdade, já havíamos gravado alguns quando tivemos a
ideia de fazer exatamente o oposto para abrir os trabalhos. Um dia inteiro de
tursimo bundão. Já começamos a rir só de imaginar a equipe gravando nos lugares
mais espalhafatosos, gringos e azerbaijanos do Rio.
No Pão de Açúcar
A gente saiu para gravar num sábado de manhã, e é verdade
que os cariocas são super proativos. Um monte de gente encalacrada na pedra do
bondinho logo de manhã é uma coisa que choca a gente. Aquele monte de bagulho sendo
vendido, não maconha, bagulho mesmo, aquelas sombrinhas com cenas de
cartões-postais da cidade, horroroso, quem compra aquilo, gente? E depois a
companhia aérea ainda vai achar que se trata de uma arma, e de certa forma eles
têm razão.
Entra numa fila, tudo bem, por aqui se descobre rápido que
coisas boas têm fila, aaaaaaaaaaaaaaahhhhhh, então você tá me dizendo que o
bondinho é uma coisa boa? É sim, eu acho uma coisa boa, não é porque é ridiculamente
voltado para os turistas que não seja bom, os turistas têm cérebro, mesmo que
refrito por ácidos e álcool eles têm cérebro, eles sabem o que é bom, e um
treco que te sobe para você apreciar uma bela vista ao invés de te atracar com
uma pedra quente às sete da manhã de sábado não é bom não, é ótimo.
Chegando aos pontos, só dá pra dar graças a Deus que a
equipe é formada também de cariocas. As descobertas são de verdade, tipo, se
ninguém me avisasse eu REALMENTE ia fazer a trilha até o nível do mar de novo.
É mesmo mal sinalizado, e os serviços surgiram de necessidades que eu ia
encontrando de não me perder por aí... (Pode até ser que eu seja meio lenta
para perceber as coisas, mas duvido muito que turistas com o c* cheio de cana
de uma semana seriam mais espertos do que eu).
Bom, a esse serviço segue-se o povo fala mais inútil que já
se fez em toda a história do audiovisual brasileiro, com aqueles proativos
felizes que estão, ou não, todos os fins de semana escalando as pedras do Rio de
Janeiro, com pessoas de fora, e também de brasileiros, já que estamos dentro do
Brasil.
E aí descubro que minha voz fica muito estranha quando dou
urros de alegria, o que pode acontecer com a visão de um creme para as mãos de
graça. Quando digo que apresentadores não têm a menor noção de como vai sair
essa porra no ar, é disso que estou falando, e a gente só descobre junto com
todo mundo , ah, como gravar pode ser gratificante, a gente aprende muitas
coisas. (E se alguém aí está curioso, ainda não conseguimos o patrocínio da
Natura).
Gente, os pratinhos. Os-pra-ti-nhos. Os pratinhos são feitos
com fotomontagens horrendas. As imagens (vendidas também), são tipo, não
consigo nem descrever. São tipo de
pessoas photoshopicamente sentadas na mão do Cristo, ou em cima do morro da
Urca, ou tomando banho na Lagoa. Um horror.
Em Copa
O lance do espetinho de camarão é o seguinte: sempre quis
comer aquilo. Quem nunca? É uma das coisas mais esteticamente bonitas pro meu
paladar. Camarões gigantes e vermelhos passeando pelo céu da minha boca
enquanto olho o mar, é de chorar de vontade. Mas lógico que rola aí um trauma:
minha mãe NUNCA deixou eu comer esse troço. Nunca nunca nunca nunca nunca. (Daí
que quando eu saí de casa, um belo dia, passou um desses vendedores na minha
frente e eu não resisti. Como um símbolo máximo da minha rebeldia e
independência recém adquirirda, comprei um espetinho. Óbvio que no mesmo
instante liguei para ela e contei. Ela, do outro lado da linha, ainda tentava
me impedir da loucura: “nãããããão, minha filha, não coma isso!!! Não coma o
espetinho de camarão!!!!”, “vou comer sim, a vida é minha e faço dela o que eu
quiser”. Eu não morri, mas tenho certeza absoluta que Deus só fornece uma
chance para cada ser humano experimentar a iguaria. E olha que eu sou do
tipinho que come ostra crua. Ah! Declaração importantíssima: é mais bonito que
bom).
Uma das coisas mais legais de fazer quando se vai para Copa
é passar por gringo. Se você não tiver uma cara muuuuuito de brasileiro, seja
lá ela qual for, vão te tomar por gringo. Daí é só não falar muito, deixar os
ambulantes falando sozinho em inglês. É super divertido. (Minha nacionalidade
avatar no Rio é francesa, tá gente?)
Uma coisa que PRECISO desabafar dessa gravação é que a piada
infame do Lelek line não é minha. NÃO É MINHAAAAAAAA!!! HAHAHAHAHAHHAAHHAHA!
Foi o produtor que mandou essa, e eu não resisti e falei, mas não foi ideia
minha, eu juro, hahahahahahah!!
No Cristo
O Cristo é legal. Gravamos tudo no mesmo dia, eu já estava
um bagaço, mas o pôr-do-sol que pegamos foi realmente incrível. Sempre dá para
você se divertir tentando sair de penetra nas fotos dos outros, e é bom que
você tenha metas mesmo, senão pode cair num mau humor tremendo, eu que detesto
esse monte de gente se encostando para ver as coisas com certeza teria
desistido se não fosse a gravação (ahhhhhh, como é bom, tá vendo? Gravar é
ótimo), e infelizmente não deu para vocês entenderem a piada “deita no chão,
Beto”, Beto tem uns quinze metros de altura, ele não deitou no chão, mas seria
ótimo ver isso.
Serviço:
Vá de blusa com mangas no Cristo. As banhas do braço ficam
horríveis na foto de baixo para cima.
Epílogo
(Uriel, o editor, falando com o cara do som): -Carlão, tem
como você arranjar uma base para introduzir um punk rock?
(Carlão): Olha Uri, punk rock é um estilo... conhecido
por... não ter introduções, e tal.
(Uriel): Pô, mas preciso de uma base aqui. Qual é o nome
dessa música, Helena?
(Helena): Éééé... “urubus não têm ressaca”.
(Uriel): “urubus... não... têm...”
(Helena): Você tá mesmo procurando ESSA MÚSICA no GOOGLE?
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